Para saber menino

Canções que saem da boca do adulto para o bebê se aquietar ou para a criança brincar junto com ele, brinquedos cantados de criança para criança, cantigas de roda. Além de carregar e revelar a identidade de um povo, as músicas tradicionais que acompanham o brincar de meninos e meninas permitem compreender as múltiplas dimensões da infância. E é justamente sobre esse repertório que Lydia se debruça para investigar as culturas desse tempo da vida em que tudo é encantamento: desde que despertou para o interesse em embrenhar-se em suas origens e “saber menino”,  são décadas dedicadas ao testemunho, ao registro e à disseminação das várias formas em que as culturas da criança se manifestam – pesquisa que ultrapassa a esfera acadêmica e vê nas relações da infância, sobretudo no ato de brincar, a chave para que o ser humano possa viver novamente em completude.

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As culturas da infância

Em depoimento, a pesquisadora e cantora Lucilene Silva explica o desenvolvimento da criança a partir da cultura da infância; o compositor e arranjador Ivan Vilela fala da relação da música com os movimentos e da canção com a contação de histórias; e o pesquisador Gandhy Piorski afirma a necessidade de se olhar para a infância de forma mais filosófica. Um dos aprendizados possíveis, segundo a educadora Stela Barbieri, é a percepção do mundo com maior integração das diferentes áreas do conhecimento.

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foto: Lydia Hortélio

Entre os materiais resultantes da pesquisa de Lydia Hortélio – parte deles publicados em CDs e livros –, estão gravações de áudio, transcrições de músicas e partituras, uma coleção de mais de três mil brinquedos físicos, além de um vasto acervo fotográfico de todos os momentos em que a educadora fitou com seus olhos toda a riqueza do brincar.

Acima, imagem retirada do álbum “Variações de 2 Laços de Fita”, em que a educadora documenta a interação entre Elisinha, sua filha, e uma amiga enquanto brincam.

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acervo Lydia Hortélio

Partitura de uma das canções do álbum Ô Bela Alice… Música Tradicional da Infância no Sertão da Bahia no começo do Século XX (2004), trabalho realizado por Lydia Hortélio em parceria com sua tia Alice Hortélio da Silva, que transmitiu as músicas tradicionais que a acompanharam em sua infância.

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Acalantos, brincos, brinquedos cantados e cantigas de roda

Ainda que as classificações tenham mais a ver com o mundo adulto do que com o universo da criança – no qual as áreas de conhecimento, o pensar e o agir se misturam com muito mais naturalidade –, elas são por vezes utilizadas por Lydia Hortélio para facilitar o entendimento do processo de desenvolvimento da criança.

Aqui, o pesquisador Gandhy Piorski fala das quatro categorias de brinquedos que caminham junto dos diferentes estágios da infância: os acalantos e os brincos, pelos quais os pais apresentam aos pequenos e às pequenas a cultura e os saberes da cultura; os brinquedos cantados, que provocam nas crianças novas formas de expressão e movimento, como as palmas; e as cantigas de roda, que mostram a elas outras formas de sociabilidade, em uma etapa posterior da juventude.

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Língua mãe músical

Da investigação das culturas tradicionais da infância, Lydia Hortélio descobriu a língua materna musical: dos acalantos – canções de ninar executadas pelo adulto –, além de afeto, o bebê começa a absorver a própria pátria, a própria cultura.

Cada região do país tem um repertório próprio de acalantos. Na voz da pesquisadora Lucilene Silva, ouve-se uma pequena amostra dessas canções, que se originaram de cantos de trabalho, cancioneiros religiosos, festas populares e culturas estrangeiras.