Uma história congelada atrás
de cada imagem para não esquecer
Lorca tece narrativas por meio das imagens que captura, mas também tem um prazer
nato de contá-las em viva voz e com riqueza de detalhes. Aqui, ele revela seis delas
Girafa (1962)
“Campanha que realizei para a Jeep Willys-Overland. Nela, era preciso mostrar a estabilidade e o quanto era robusta a caminhonete, por isso, fui até um circo e aluguei uma girafa diretamente com o dono, um espanhol. A primeira tentativa deu-se na Rua Quirino de Andrade, no centro da cidade. Numa fração de segundo, a girafa escapou e correu em disparada em direção ao Vale do Anhangabaú. Desesperado, o espanhol corria atrás dela e gritava para mim: ‘Se acontecer alguma coisa, você me paga um milhão de cruzeiros’. Na segunda tentativa, peguei emprestado da CMTC um caminhão com plataforma elevatória que era utilizado para manutenção na fiação da rede de trólebus. Mas tinha um problema: como fazer a girafa olhar para a câmera? O treinador da girafa me pediu para comprar pão francês e passou a dica: ‘Vou dar o pão e ela vai ficar com o pescoço ereto para engolir. É só fotografar’. ”
Le Diable au Corps (1949)
“Esta fotografia foi inspirada no filme francês Le Diable au Corps (no Brasil, Adúltera), projetado em abril de 1949 na cidade de São Paulo. O filme, em preto e branco, de bela fotografia e baseado no livro de Raymond Radiguet, fez muito sucesso entre os jovens paulistanos. Narra o romance entre um adolescente e uma senhora casada. Jovem na época, fiquei impressionado com o clima e a fotografia noir do filme. Convidei, então, um jovem, Ubirajara Marien, filho de um amigo, para ser dirigido e retratado. Foi a primeira experiência bem-sucedida, em meu laboratório no Brás, com a fotografia solarizada que aprendi com o amigo e vizinho Geraldo de Barros. ”
Malandragem (1949)
“No cruzamento das ruas Bresser e Almirante Barroso tinha um bar. Em alguns finais de noite, o cantor Nelson Gonçalves aparecia por lá para tomar uma cerveja e ver os amigos. Depois de passar algumas horas no laboratório, eu também aparecia por lá. Uma noite, depois da chuva, resolvi construir a cena – dois homens posicionados frente a frente. Na imagem, que na verdade é um pseudoflagrante, os planos estão bem marcados, há um pequeno desequilíbrio acentuado pela inclinação dos corpos presentes e um ponto de luz brilhante refletido na poça d’água. Uma imagem construída como no cinema; uma das minhas grandes inspirações nesse início de carreira.”
À procura de emprego (1948)
“Sempre que passava pela Praça Antonio Prado, na esquina com a Rua João Brícola, nas imediações do jornal Diário Popular, via esta cena e a fotografava mentalmente: homens lendo o jornal à procura de emprego num momento econômico difícil para o país, afinal, a guerra tinha acabado havia pouco tempo e exigiu sacrifícios em todo o mundo. Os homens se dirigiam para o local a fim de buscar a esperança nos classificados do jornal. Percebi então que a fotografia já estava pronta, e escolhi a luz da tarde, que ajudou muito na composição. Na época estava iniciando minhas atividades no Foto Cine Clube Bandeirante e a fotografia já tinha invadido meu universo imagético. Foram poucos cliques para chegar a essa imagem, uma das mais emblemáticas do período.”
Pernas (1966)
“Nesta campanha para as meias Pégaso, precisava resolver uma questão: como propagar um produto de difícil visualização? A partir do briefing – “as meias deixam suas pernas inconfundíveis” –, idealizei esta imagem. Diferentes pernas de mesas com um design inconfundível, que justapostas foram uma surpresa para todos, inclusive para mim. Fiz várias tomadas, com algumas variações, e esta que aqui apresento tornou-se uma espécie de marca registrada de meu trabalho por ser uma imagem muito singular. ”
Bailarina (1965)
“Estava em Campos do Jordão (SP) registrando um loteamento para a campanha de vendas da Lopes Imóveis. Após uma manhã de trabalho, fiz uma pausa para descanso à sombra de uma araucária. Com minha Rolleiflex na mão, comecei a observar a cena ao redor e senti que seria possível fazer uma fotografia. Nesse momento, decidi fazer algo diferente: posicionei a câmera direcionando a objetiva para a copa da araucária. Escolhi um longo tempo de exposição, fazendo um movimento circular com a câmera. Praticamente explorei a cena às cegas, clicando algumas vezes, pois só veria o resultado na revelação do filme. Este, para mim, foi surpreendente.”
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Serviço
Itaú Cultural
Avenida Paulista, 149, Estação Brigadeiro do Metrô
Fones: 11. 2168-1776/1777
Acesso para pessoas com deficiência
Ar condicionado
Estacionamento: Entrada pela Rua Leôncio de Carvalho, 108
Se o visitante carimbar o tíquete na recepção do Itaú Cultural:
3 horas: R$ 7; 4 horas: R$ 9; 5 a 12 horas: R$ 10.
Com manobrista e seguro, gratuito para bicicletas.
German Lorca: Mosaico do Tempo, 70 anos de fotografia Abertura: Dia 25 de agosto (sábado), às 11h
Visitação: De 25 de agosto a 4 de novembro
Terças-feiras a sextas-feiras, das 9h às 20h,
com permanência até as 20h30
Sábados, domingos e feriados, das 11h às 20h
Pisos -1 e -2
Classificação indicativa: livre
Entrada gratuita
Cristina R. Durán: cristina.duran@conteudonet.com
Karinna Cerullo: cacau.cerullo@conteudonet.com
Mariana Zoboli: mariana.zoboli@conteudonet.com
Roberta Montanari: roberta.montanari@conteudonet.com
No Itaú Cultural:
Larissa Correa:
larissa.correa@terceiros.itaucultural.org.br
Fone: 11.2168-1950
Carina Bordalo (programa Rumos)
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Fone: 11.2168-1906