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Piano

Voz Fabiana Cozza | Roteiro Maria Shu

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"Rio de Janeiro ou “Pianópolis” Ainda em 1856, a presença numerosa desse instrumento sugere a Araújo Porto Alegre a denominação de “Cidade dos Pianos” para a então acanhada sede da corte. Daí em diante ele se torna uma verdadeira praga, no dizer queixoso dos cidadãos de vida pacata."

Trecho retirado do livro Chiquinha Gonzaga: Uma história de vida, de Edinha Diniz

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Piano de modelo próximo ao usado pela maestrina, que possuía um Rönisch, fabricado em 1902 Tendo pertencido a Chiquinha Gonzaga até 1935, ano de sua morte, o piano aparece em sua última foto, tirada em 1932, na ocasião de seu aniversário. A compositora trouxe seu piano da Europa em 1909, mesmo ano de fundação do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, que hoje o preserva em seu acervo.
crédito: Acervo Instituto Moreira Salles/Coleção Edinha Diniz/Chiquinha Gonzaga

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Os gêneros musicais aqui apresentados são complementares, e só a partir do olhar para o conjunto deles é possível ter uma noção mais completa da história musical brasileira, dentro do universo de Chiquinha Gonzaga.

Lundu

Canção/dança trazida pelos africanos escravizados vindos de Angola e do Congo no final do século XVII. Tinha como objetivo promover o flerte entre as pessoas que participavam das rodas de batuques. Esta vertente é a matriz fundamental da nossa música brasileira, sendo considerado este o gênero que influenciou o samba.

Valsa

Originária da Áustria em meados do século XVIII, a valsa possui três marcações bem definidas, sendo a primeira mais forte e as duas seguintes mais leves e rápidas. No Brasil, a primeira manifestação de valsa de salão deu-se com a vinda da família real portuguesa. Foi um gênero muito popular por aqui e influenciou a criação das modinhas e serestas.

Tango brasileiro

Nasceu de uma fusão entre o lundu, a polca e a habanera (gênero musical e dança criados em Havana, Cuba). Ernesto Nazareth, pianista e compositor brasileiro, adotou a palavra tango para classificar composições que hoje são integradas ao universo do choro. O mesmo termo foi empregado por Chiquinha Gonzaga e vários de seus contemporâneos para “rotular” maxixes. 

 

Fado

Canção popular portuguesa que, segundo historiadores, se originou no lundu do Brasil colônia. Geralmente é cantado pela/o fadista e acompanhado por uma guitarra clássica. 

Polca

Dança em pares, originária da Boêmia (atual província da República Checa) no século XIX, que se difundiu por toda a Europa e foi trazida ao Brasil por descendentes daquela região. A polca apresenta melodia saltitante e tornou-se muito popular aqui no país, ganhando os teatros e as ruas.

Maxixe

Primeira manifestação com características rítmicas específicas do Brasil. Dançada a um ritmo rápido, notam-se influências do lundu, das polcas e das habaneras. O maxixe também é chamado de tango brasileiro. Chiquinha Gonzaga compôs alguns sucessos deste gênero musical, a exemplo de “Lição de maxixe” e “Corta-jaca”, que, por meio de sua letra, é a que mais revela a magia do ritmo e a disfarçada sensualidade por trás dos movimentos.

 

Choro

Carinhosamente chamado de chorinho, surgiu no Rio de Janeiro em meados do século XIX. Os primeiros grupos eram formados por flauta, violão e cavaquinho, e posteriormente outros instrumentos foram sendo agregados. A improvisação é condição básica deste gênero e justamente por isso o choro não dispensa o uso de modulações imprevistas, com a intenção de colocar à prova o virtuosismo dos chorões e choronas.

Samba

Tipicamente brasileiro, o samba tem origem nos antigos batuques trazidos ao Brasil pelos africanos escravizados no período colonial. A harmonia musical é feita pelos instrumentos de corda, como o cavaquinho e o violão. Já o ritmo é dado pelo surdo ou pelo pandeiro. Com o passar do tempo, outros instrumentos foram sendo agregados a este brasileiríssimo gênero musical.

Quadrilha

Dança de salão popular na Europa que chegou ao Brasil no começo do século XIX. A popularização por aqui fez com que sua execução em cinco partes ganhasse comandos inesperados e grande duração; esses comandos eram gritados pelo chamado “marcante”, muitas vezes com repetições.

Marcha carnavalesca

Também conhecida como marchinha, é uma música de compasso binário, com marcação acentuada do tempo para animar os foliões dos blocos de rua e dos cordões de salão, que literalmente marcham ao acompanhar o ritmo da música. Chiquinha Gonzaga compôs a primeira marcha feita especialmente para o Carnaval: “Ó abre alas”.

Glossário elaborado por José Cetra Filho José Cetra Filho é pesquisador teatral, mestre em artes cênicas pela Universidade Estadual Paulista (Unesp), membro da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA), editor do blog www.palcopaulistano.blogspot.com e autor do livro O Palco Paulistano de Golpe a Golpe (1964-2016).

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Quiz

Depois desse mergulho na vida e na obra de Chiquinha, assim como na história da música brasileira, vamos testar seus conhecimentos?

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Voz Jup do Bairro | Roteiro Maria Shu

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Maria Teresa Madeira fala sobre a homenageada da 51ª Ocupação: “Chiquinha é sinônimo de empoderamento feminino”

por Amanda Rigamonti

Mulher, pianista, professora, estudiosa, apaixonada pela vida, pelos filhos e pela profissão. É assim que se define Maria Teresa Madeira, a convidada da vez do Som que Fez o Som.

Nascida na Lapa, no Centro do Rio de Janeiro, e criada em Nova Iguaçu, no subúrbio do mesmo Rio, a musicista se tornou uma das principais intérpretes de Chiquinha Gonzaga, acumulando em sua história inúmeras apresentações e gravações das composições de Chiquinha.

A artista, que define o piano como “o cara”, tem uma trajetória na música que começa cedo, com uma mãe professora de piano e acordeom. Tem hoje mais de 30 discos lançados, e é doutora pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio), onde também dá aulas para os cursos de bacharelado e de extensão. Assim, as referências que compartilhou neste Som que Fez o Som são das mais variadas e trazem muito de sua história e memória afetiva familiar.

Antes de mergulhar nas indicações de Maria Teresa Madeira, leia entrevista com a pianista, em que ela conta um pouco de sua história e da relação com o piano e fala sobre Chiquinha Gonzaga, a homenageada da 51ª edição do programa Ocupação Itaú Cultural – que entra em cartaz no dia 24 de fevereiro na sede da instituição.

Maria Teresa, conte um pouco de sua trajetória. Como foi sua infância? Quando e como ingressou na música?

Minha trajetória na música começou cedo. Minha mãe era professora de música (piano e acordeom) e tinha uma academia de música e dança em Nova Iguaçu (RJ). Ou seja, nasci já num ambiente propício. Mas nunca me senti obrigada a estudar música ou dança – e acabei me apaixonando pelas duas coisas.

Sou filha única, meus pais me criaram com muito amor e foram essenciais na minha formação. Morávamos numa casa grande e guardo memórias maravilhosas da minha infância. Brinquei muito, andei de bicicleta, gostava de praia, piscina, e até joguei futebol na rua em que morava, pois era sem saída… Nossa mesa era farta. Gosto de comer bem até hoje!

Fiz o curso técnico de piano lá na academia da minha mãe e depois entrei para a Universidade Federal do Rio de Janeiro, com 17 anos, para fazer o bacharelado em piano. Mais tarde fiz meu mestrado na Universidade de Iowa, nos Estados Unidos, onde morei por três anos. Em 2016, concluí meu doutorado pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, instituição na qual leciono desde 2009. Ensinar música numa universidade pública tem sido uma experiência fantástica. Cada aluno é um universo e traz consigo uma trajetória muito particular. Saber lidar com a diversidade tem me dado um prazer enorme. E ver nos olhos desses alunos a sede por conhecimento é meu maior estímulo.

O que tem de especial no piano, na sua opinião?

As várias facetas do instrumento: som, timbre, abrangência de registros, fora a empatia física que todo instrumentista precisa ter com o instrumento de sua escolha. Sem contar com o repertório escrito para ele, sem mencionar todas as possibilidades de adaptações de variadas formações musicais que ele consegue sintetizar. Ele para mim é “o cara”!

Por que Chiquinha Gonzaga?

Chiquinha surgiu felizmente na minha vida por causa de um projeto que fui convidada a participar em 1995. Ali foi o início de uma paixão eterna… Nesse projeto toquei em quatro concertos e ainda fiz a direção musical do “Forrobodó”, sucesso de Chiquinha, de 1912. Depois, veio a minissérie televisiva, e na sequência três discos. Viajei muito tocando Chiquinha pelo Brasil e pelo mundo: Estados Unidos, Argentina, França, Espanha, Finlândia etc. Novamente em 2013, outra montagem de “Forrobodó”. E em 2020 lancei, em parceria com Wandrei Braga, a coleção chamada Chiquinha Gonzaga para Todos em quatro volumes, todas partituras para piano, organizadas didaticamente por níveis de dificuldade. São 145 músicas pinçadas do acervo digital do site www.chiquinhagonzaga.com. E assim vamos em frente com Chiquinha. Sem parar.

Chiquinha faz do piano, antes um mero ornamento, um instrumento de trabalho. Você poderia falar sobre o impacto dessa transição?

Chiquinha foi uma mulher que acreditava na sua capacidade de criar e de vencer. O piano, primeiramente um mero apetrecho que fazia parte da educação das sinhazinhas de época, acabou virando seu ganha-pão. Depois de um casamento arranjado por seu pai, um homem de prestígio social e político, ganhou um marido possessivo e tão repressor quanto seu pai. Não aceitou. E tudo que lhe restou foi a música. Na verdade, era só isso que ela precisava. Trabalhou duro para se fazer respeitar num ambiente masculino. Ela tocou, compôs, arranjou e escreveu para teatro, o que lhe trouxe o reconhecimento do grande público. Chiquinha prosperou e obteve muito sucesso em vida. E amou muito, do jeito que queria.

Para quem não a conhece: como você apresentaria Chiquinha Gonzaga?

Compositora, pianista, arranjadora, abolicionista, defensora dos direitos autorais, a primeira maestrina à frente de uma orquestra, a primeira pessoa que escreveu uma música especialmente para o Carnaval. Chiquinha é sinônimo de empoderamento feminino. Eu sempre digo que ela lutou dignamente e conseguiu ser respeitada. Chiquinha foi uma heroína, uma mulher à frente de seu tempo, sem nunca perder o rumo de sua vida.

Você é tida como a principal intérprete de Chiquinha Gonzaga. O que lhe rendeu este título e como honrá-lo?

Sinto-me muito honrada em receber esse título de principal intérprete. Mas acho que faço parte do time dos pianistas que tocaram e tocam Chiquinha e reconhecem seu valor como criadora e como um divisor de águas na nossa música. Minha história de vida profissional ficou marcada por alguns compositores e Chiquinha fez e continua fazendo parte dela. Vou continuar com minha eterna pesquisa sobre Chiquinha. Acredito que posso honrá-la desta forma, tocando, escrevendo sobre ela e divulgando sua obra.

Como uma artista contemporânea, o que a move a continuar o legado de Chiquinha?

Há muito ainda que pesquisar, tocar, editar, digitalizar e registrar. O legado continua desse jeito. A curiosidade e a vontade de aprender estimulam o estudo, o conhecimento e inevitavelmente os registros. Eu torço muito para que a nova geração venha com sede e fome de Chiquinha. Prometo que ninguém vai se arrepender.

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Voz Indira Nascimento | Roteiro Maria Shu

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Seção de vídeo

Ó abre alas, que eu quero passar

A pesquisadora e biógrafa Edinha Diniz e o pianista e pesquisador Wandrei Braga comentam a marcha “Ó abre alas”, composta em 1899 e um marco na obra de Chiquinha Gonzaga. Essa, que foi a primeira música feita especialmente para o Carnaval, é uma canção que permanece no imaginário dos brasileiros, tendo sido assim desde seus primeiros carnavais, uma vez que só foi gravada em disco mais de 70 anos depois de sua composição.

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