Cantei só pra distrair

Samba, Minha Verdade, Samba, Minha Raiz (frente)

imagem: reprodução da capa do disco

Compartilhe

Disco 1 – Samba, Minha Verdade, Samba, Minha Raiz (1978)

Em 1974, Oscar Costa dizia aos amigos, resignado: “Depois de velha, agora minha mulher é artista”. Filho do fundador da escola de samba Prazer da Serrinha, Alfredo Costa, Oscar se casou com Yvonne (assim mesmo, com Y) Lara em 1947 e, mesmo sabendo do fascínio da esposa por música, mais precisamente pelo samba, ciumento, ele nunca aceitou com bons olhos a presença dela naquele ambiente dominado por homens e pela boemia. Ao deixar escapar tal frase, carregada de conformismo, Oscar se referia à segunda participação de Yvonne em um disco, Quem Samba Fica? Fica (Odeon, 1974), produzido por Adelzon Alves.

Muito antes da estreia fonográfica, que se deu em 1970, Yvonne, nascida em 1922, já havia composto a sua primeira canção, “Tiê” (em parceria com os primos Hélio e Antônio dos Santos, conhecido como Mestre Fuleiro), aos 12 anos, e frequentado a Prazer da Serrinha e, posteriormente, desde 1947, o Império Serrano, agremiação pela qual ela escreveu o seu nome na história ao ser a primeira mulher  a integrar a ala de compositores de uma escola e também a primeira figura feminina a ter um samba-enredo de sua autoria (“Os Cinco Bailes da História do Rio”, em parceria com Silas de Oliveira e Antônio Bacalhau) levado para a avenida na elite do Carnaval carioca, em 1965.

Mas apenas em 1978 é que ela, já com o nome artístico Dona Ivone Lara, lançou o seu primeiro disco solo e passou a se dedicar exclusivamente à carreira artística. Os motivos de tamanha espera? O primeiro era o ciúme do marido, Oscar. O segundo, digamos, muito mais nobre, estava ligado à outra vocação de Ivone, que, durante 37 anos, trabalhou como assistente social especializada em terapia ocupacional, cuidando de doentes mentais.

Após a morte de Oscar e a aposentadoria do serviço público, a artista lançou, em 1978, Samba, Minha Verdade, Samba, Minha Raiz, o seu elogiado álbum de estreia, produzido novamente por Adelzon Alves. O LP, um dos melhores de toda a carreira da compositora (se não o melhor), trazia a expressividade do canto de Ivone em 12 faixas, sendo duas de autoria só dela, seis com o seu parceiro mais constante, Delcio Carvalho, e outras quatro de compositores ligados ao universo das escolas de samba: “O Império Tocou Reunir”, de Silas de Oliveira e Mano Décio da Viola, e “Prazer da Serrinha”, de Hélio dos Santos e Rubens da Silva, ambas sobre as duas agremiações de coração de Ivone; e “Chegou Quem Faltava”, de Nilson Gonçalves, e “Quando a Maré”, de Antonio Caetano, as duas com participação de Seu Alcides (conhecido como Malandro Histórico da Portela).

Faixa a faixa

Minha Verdade (Yvonne Lara/Delcio Carvalho): versos primorosos de Delcio e a melodia sinuosa e inconfundível de Ivone.

Com Ele É Assim (Yvonne Lara): típico samba de terreiro com letra e música de Ivone e um coro afinado.

O Império Tocou Reunir (Silas de Oliveira/Mano Décio da Viola): samba de terreiro feito pela dupla Pelé e Coutinho do samba-enredo imperiano.

Espelho da Vida (Yvonne Lara/Delcio Carvalho): belo samba da dupla Ivone-Delcio, com destaque para o violão de Darly Louzada.

Chegou Quem Faltava (Nilson Gonçalves): aula de samba por Seu Alcides (Malandro Histórico da Portela), com o “molho” da ala de repiniques da escola de Oswaldo Cruz.

Em Cada Canto uma Esperança (Yvonne Lara/Delcio Carvalho): clássico atemporal do repertório da dupla, com solfejo característico de Ivone na introdução.

Samba, Minha Raiz (Yvonne Lara/Delcio Carvalho): métrica e divisão de versos interessantes e inusitada.

Andei para Curimá (Yvonne Lara): letra e música apenas de Ivone, que evidenciam a veia de partideira da compositora.

Quando a Maré (Antonio Caetano): um dos duetos mais belos da história do samba, com o casamento das vozes de Ivone e Seu Alcides (Malandro Histórico da Portela).

Nas Sombras da Vida (Yvonne Lara/Delcio Carvalho): lindo samba dolente de Ivone e Delcio, injustamente ofuscado por outros sucessos da dupla.

Prazer da Serrinha (Hélio dos Santos/Rubens da Silva): composição do conhecido Tio Hélio, o samba se tornou um hino para a escola de Madureira.

Aprendi a Sofrer (Yvonne Lara/Delcio Carvalho): samba com a clássica temática da “dor de amor” e uma composição com a assinatura elegante de Ivone e Delcio.

Lucas Nobile  é jornalista e autor da discobiografia Dona Ivone Lara, feita para o Sambabook.
Trabalhou como repórter de música nos jornais Folha de S.Paulo e O Estado de S. Paulo,
foi jurado do Prêmio da Música Brasileira e colaborador da Bravo!,
da Rolling Stone, da Clarín, do Instituto Moreira Salles e do Auditório Ibirapuera.
Também é autor de livretos da Coleção Folha Tributo a Tom Jobim (2013).

Compartilhe

Samba, Minha Verdade, Samba, Minha Raiz (verso)

imagem: reprodução da contracapa do disco

Compartilhe

Sorriso de criança (frente)

imagem: reprodução da capa do disco

Compartilhe

Disco 2 – Sorriso de Criança (1979)

Da mesma forma que outros grandes nomes do samba, como Cartola, Nelson Cavaquinho e Clementina de Jesus, Dona Ivone Lara também se apresentou ao grande público como uma revelação tardia. Porém, se a cantora demorou 56 anos para gravar o seu primeiro disco solo, ela não precisou esperar mais tanto tempo para voltar aos estúdios da Odeon. Apenas um ano depois de Samba, Minha Verdade, Samba, Minha Raiz, ela lançou o seu segundo LP, Sorriso de Criança, em 1979.

Novamente no comando da produção de um álbum de Dona Ivone, Adelzon Alves apostou na máxima “em time que está ganhando não se mexe” e, após as críticas elogiosas ao disco anterior, entendeu que a mesma sonoridade autêntica e espontânea, que transmitia a atmosfera de uma roda de samba de terreiro, deveria ser mantida. Para isso, ele convocou músicos respeitadíssimos no métier, como Marçal, Luna, Eliseu, Doutor, Dazinho, Geraldo Bongô e Cabelinho, que formavam o ritmo do Conjunto Nosso Samba, além de nomes do quilate de Abel Ferreira (clarinete e sax alto), Dino (violão de sete cordas), Zé Menezes (cavaquinho), Luizão Maia (baixo), Copinha (flauta) e Rosinha de Valença (violão).

Time escalado, faltava alinhavar o repertório, que manteria a mesma espinha dorsal do álbum anterior: composições em parceria com Delcio Carvalho, temas escritos apenas por Ivone e músicas de autores ligados ao universo das escolas de samba, como Silas de Oliveira, Mano Décio da Viola e os primos da artista Hélio e Fuleiro.

Com Sorriso de Criança, Ivone Lara já colhia os frutos de um reconhecimento nacional. E não que os seus dois primeiros discos tivessem estourado em vendas. O que lhe rendia um sucesso estrondoso em todo o país eram canções suas consagradas na voz de outros artistas, como Maria Bethânia, Roberto Ribeiro, Clara Nunes, Elza Soares, Elizeth Cardoso, Beth Carvalho e Cristina Buarque. Não à toa, logo no seu segundo LP solo, Dona Ivone interpretou um pot-pourri de sucessos de sua autoria, com “Sonho Meu”, gravada em 1978 por Bethânia e Gal Costa, “Liberdade” e “Acreditar”, por Roberto Ribeiro, “Tiê” e “Andei para Curimá”, pela própria Ivone. Além desses clássicos perenes, Sorriso de Criança trazia mais dez faixas, entre elas verdadeiras obras-primas, como “O Meu Amor Tem Preço” e “Quisera”.


Faixa a faixa

Sorriso de Criança (Ivone Lara/Delcio Carvalho): letra forte e riquíssima de Delcio, inspirada no assassinato de uma criança.

Cantei Só pra Distrair (Hélio dos Santos): outro hino atemporal escrito por Tio Hélio.

Adeus à Solidão (Ivone Lara/Delcio Carvalho): casamento perfeito entre letra e poesia em mais um samba melancólico da dupla Ivone-Delcio.

O Meu Amor Tem Preço (Ivone Lara): um dos sambas mais bonitos de todo o cancioneiro de Ivone, que novamente se mostrava uma compositora completa.

Quisera (Ivone Lara/Delcio Carvalho): outra pérola da parceria, esta faixa, em termos de composição e de interpretação, evidencia os motivos que levaram Ivone a ser comparada a Cartola pela imprensa.

São Paulo, Chapadão de Glórias (Silas de Oliveira/Joacyr Sant’Anna): participação de Clara Nunes no coro deste primor de samba-enredo composto por Silas.

Sonho Meu/Liberdade/Acreditar (Ivone Lara/Delcio Carvalho)/Tiê (Ivone Lara/Hélio dos Santos/Fuleiro)/Andei para Curimá (Ivone Lara): interpretação antológica de Ivone para os seus clássicos, apesar de emendas um tanto quanto forçadas entre as músicas.

Amar como Eu Amei (Mano Décio da Viola/Abílio Martins): bonito samba de Mano Décio, mas distante do auge criativo do compositor imperiano.

Confesso (Ivone Lara): outra composição assinada apenas por Ivone, este samba reafirma que ela também compunha letras interessantes.

Por Querer Liberdade (Fuleiro): aula de simplicidade em apenas oito versos criados por Mestre Fuleiro.

Muro das Lamentações (Ivone Lara/Delcio Carvalho): versos criativos de Delcio.

Lucas Nobile

Compartilhe

Sorriso de criança (verso)

imagem: reprodução da contracapa do disco

Compartilhe

Sorriso Negro (frente)

imagem: reprodução da capa do disco

Compartilhe

Disco 3 – Sorriso Negro (1981)

Terceiro disco solo da trajetória de Dona Ivone, Sorriso Negro representou uma série de mudanças na carreira da artista, a começar pela troca de gravadoras, da Odeon para a WEA, da Warner. Outro fator importante neste álbum foi a produção e a direção artística assinadas por Sérgio Cabral, que já dirigira Ivone no espetáculo Unidos do Pujol, em 1974.

Embora Cabral fosse extremamente competente e renomado – e gozasse de grande intimidade com o samba e com a obra da compositora e cantora –, o resultado final de Sorriso Negro, lançado em 1981, ficava aquém do apresentado nos álbuns anteriores de Dona Ivone. A bem da verdade, ninguém sabia extrair dos músicos uma sonoridade tão quente, fiel e coerente ao repertório da artista como Adelzon Alves, o mesmo que revelara ao país nomes como João Nogueira, Clara Nunes, Roberto Ribeiro e, claro, Ivone Lara.

Apesar do som “com cara de MPB”, Sorriso Negro se firmou como um excelente álbum na discografia da compositora. Com arranjos e regências interessantes assinados por Rosinha de Valença, o LP trazia as participações especiais de Maria Bethânia, em “A Sereia Guiomar”, e Jorge Benjor, na faixa que batizava o disco. Composto por Adilson Barbado e Jorge Portela, o samba se tornou um clássico instantâneo e um hino à negritude na voz de Dona Ivone, o que faz até hoje com que muitas pessoas achem que a canção foi escrita por ela.

Sorriso Negro também contava com outras composições muito interessantes de Ivone, como “Axé de Ianga (Pai Maior)” e “Alguém Me Avisou”, grande sucesso lançado dois anos antes por Bethânia, Caetano Veloso e Gilberto Gil. Além disso, o que dizer mais de um LP que apresentava a primeira gravação do histórico samba-enredo “Os Cinco Bailes da História do Rio” em um disco de carreira da artista e revelava duas canções feitas com dois novos parceiros da artista, “Unhas”, com Hermínio Bello de Carvalho, e “Tendência”, obra-prima escrita com Jorge Aragão.

Faixa a faixa

A Sereia Guiomar (Dona Ivone Lara/Delcio Carvalho): dueto quente entre Ivone e Bethânia.

De Braços com a Felicidade (Dona Ivone Lara): melodia sinuosa, com a marca de Ivone.

Alguém Me Avisou (Dona Ivone Lara): “Foram me chamar, eu estou aqui, o que é que há”. Obra-prima, dispensa apresentações.

Unhas (Dona IvoneLara/Hermínio Bello de Carvalho): parceria interessante com Hermínio sobre um desamor.

Me Deixa Ficar (Dona Ivone Lara/Delcio Carvalho): a canção traz um solfejo magnífico de Ivone, que já vale a audição.

Nunca Mais (Dona Ivone Lara): lindos caminhos melódicos na segunda parte do samba.

Sorriso Negro (Adilson Barbado/Jorge Portela): registro antológico com Jorge Benjor, em um hino à negritude eternamente associado a Dona Ivone.

Adeus de um Poeta (Tião Pelado): uma das mais belas homenagens feitas a Silas de Oliveira.

Os Cinco Bailes da História do Rio (Dona Ivone Lara/Silas de Oliveira/Antônio Bacalhau): a gravação com andamento mais lento evidencia a beleza da melodia deste samba-enredo atemporal.

Meu Fim de Carnaval Não Foi Ruim (Dona Ivone Lara): samba abaixo da média criativa de Ivone.

Tendência (Dona Ivone Lara/Jorge Aragão): clássico da dupla que atravessa gerações.

Axé de Ianga (Pai Maior) (Dona Ivone Lara): a influência da matriz africana na obra de Dona Ivone.


Lucas Nobile

Compartilhe

Sorriso Negro (verso)

imagem: reprodução da contracapa do disco

Compartilhe

Alegria, Minha Gente (Serra dos Meus Sonhos Dourados) (frente)

imagem: reprodução da capa do disco

Compartilhe

Disco 4 – Alegria, Minha Gente (Serra dos Meus Sonhos Dourados) (1982)

Em 1982, apenas quatro anos depois de lançar o seu primeiro disco solo, Dona Ivone já era chamada pela imprensa e pelo meio musical de Primeira-Dama do Samba. Segundo o seu parceiro Hermínio Bello de Carvalho, o apelido se justificava pelo fato de a artista ser a primeira a cantar, a compor, a tocar um instrumento (o cavaquinho, ainda que ela não fosse nenhum virtuose) e a dançar aquele miudinho tão particular.

Toda essa comunhão de talentos e habilidades de Ivone rendia alguns frutos. E um deles era ela ter o privilégio de poder trabalhar com os melhores produtores de samba do país: Adelzon Alves, nos seus dois primeiros álbuns, Sérgio Cabral, no terceiro, e J.B. Botezelli, o popular Pelão, que havia produzido o disco Música Popular do Centro-Oeste/Sudeste, em que a artista interpretara “Amor Aventureiro” (Mano Décio da Viola e Silas de Oliveira) e “Andei para Curimá”, dela mesma. Agora, no quarto LP de Dona Ivone, Alegria, Minha Gente (Serra dos Meus Sonhos Dourados), novamente pela WEA, a função caberia ao competentíssimo Rildo Hora.

O produtor, que naquela época já havia tomado parte em grandes sucessos de Martinho da Vila e Beth Carvalho, definiu qual seria o plano básico do repertório logo no primeiro encontro com a compositora. Além do já habitual equilíbrio entre composições apenas da artista e dela em parceria com Delcio Carvalho, o álbum apresentaria sambas que Ivone ouvia na sua juventude na escola Prazer da Serrinha.

No azeitado pot-pourri “Sambas de Terreiro (Prazer da Serrinha)”, foram gravadas sete canções, uma mais bonita que a outra, de nomes como Carlinhos Bem-Te-Vi, Manula, Paco, Antenor Bexiga, Mestre Fuleiro e Dona Ivone. O LP, outra pepita da discografia da sambista, trazia também duas composições só dela, a quentíssima “Roda de Samba pra Salvador” e o partido-alto “Preá Comeu”, além de “Uma Rosa pro Cartola”, homenagem dos craques Wilson Moreira e Nei Lopes ao ícone mangueirense. E ainda havia espaço para um dos sambas mais bonitos feitos pela dupla Ivone-Delcio Carvalho, “Nasci para Sonhar e Cantar”. Tudo isso interpretado por instrumentistas do peso de Raphael Rabello (violão de sete cordas), Joel Nascimento (bandolim), Mané do Cavaco, Bebeto Castilho (baixo) e Luciana Rabello (cavaquinho), entre outros.

Faixa a faixa

Roda de Samba pra Salvador (Dona Ivone Lara): samba de roda quentíssimo em tributo “aos maninhos de Salvador”.

Preá Comeu (Dona Ivone Lara): simples, como reza a cartilha de todo bom partido-alto.

O Samba Não Pode Parar (Fabrício do Império/Paulo George): em letra singela, Dona Ivone canta que chuva não é empecilho para uma boa roda de samba.

Lamento do Negro (Caboré/Onofre/Heitor dos Prazeres Filho): deferências justas à matriz africana.

Nasci para Sonhar e Cantar (Dona Ivone Lara/Delcio Carvalho): tranquilamente está entre as três maiores obras-primas de toda a parceria de Ivone e Delcio.

Sambas de Terreiro (Prazer da Serrinha) – Serra dos Meus Sonhos Dourados (Carlinhos Bem-Te-Vi)/Orgia (Manula)/Alegria Minha Gente (Paco)/Eu Já Jurei (Antenor Bexiga)/Me Abandonaste (Mestre Fuleiro/Dona Ivone Lara)/Meu Destino É Sofrer (Dona Ivone Lara)/Chorar Não Resolve (Manula): aula de samba neste pot-pourri, com destaque para o samba de Antenor Bexiga e “Meu Destino É Sofrer”, composto por Ivone na juventude.

Coração por que Choras? (Dona Ivone Lara): versos aquém da linda melodia de Ivone.

Vejo em Teus Lábios Risos (Mestre Fuleiro/Delfino Coelho): samba clássico, joia de alto quilate de Fuleiro e Delfino.

Uma Rosa pro Cartola (Wilson Moreira/Nei Lopes): tributo à altura do mestre mangueirense.

Lucas Nobile

 

Compartilhe

Alegria, Minha Gente (Serra dos Meus Sonhos Dourados) (verso)

imagem: reprodução da contracapa do disco

Compartilhe

Ivone Lara (frente)

imagem: reprodução da capa do disco

Compartilhe

Disco 5 – Ivone Lara (1985)

Dona Ivone Lara chegou à década de 1980 com uma série de conquistas profissionais acumuladas na bagagem: primeira mulher a ver uma escola da elite do Carnaval carioca desfilar com um samba de sua autoria; primeira mulher a fazer parte da ala de compositores de uma escola de samba; shows em todo o país e turnês internacionais; composições suas conhecidas nacionalmente na voz de artistas consagrados, como Maria Bethânia, Gal Costa, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Roberto Ribeiro, Clara Nunes, Elza Soares, Alcione e Beth Carvalho.

Em 1985, a glória mais recente de Ivone era o prestígio de ver uma composição sua, “Enredo do Meu Samba”, parceria com Jorge Aragão, como tema de abertura da novela Partido Alto, da TV Globo, em interpretação funkeada de Sandra de Sá.

Apesar de todo o reconhecimento e de críticas elogiosas aos discos de carreira de Dona Ivone, os seus álbuns nunca decolaram em vendas. Sendo assim, as gravadoras – que, naturalmente, aguardavam bons retornos financeiros dos seus contratados – não lhe davam muita moral. E, em 1985, três anos sem lançar um LP, ela estreava na Som Livre com o disco Ivone Lara.

Com produção de Aramis Barros e novamente com arranjos e regência de Rildo Hora, a compositora lançava mais um álbum importante na sua discografia. Diferentemente dos discos anteriores da artista, Ivone Lara não trazia nenhum grande sucesso, mas um repertório de muita qualidade.

Além de cantar sambas de compositores de quem ela nunca havia gravado algo, como o próprio Rildo Hora (“Menino Brasileiro”), Paulinho Mocidade e Jurandir Brinjela (“Se o Caminho É Meu”) e Penteado do Império (“Vem Ouvir”), Dona Ivone voltou a gravar temas do primo Hélio (“Resignação”), de Mano Décio da Viola (“Sem Cavaco, Não”) e de Jorge Aragão [“Carlos Drummond de Andrade (E Agora, José?)”], samba-enredo que também fazia parte da trilha da novela Partido Alto).

No disco, a cantora ainda estreou uma parceria com crias do Cacique de Ramos, como Arlindo Cruz e Sombrinha (“Não Fique a se Torturar”), interpretou o belo samba “Pra Você Voltar”, de Arlindo, Neoci Dias e Zeca Pagodinho, e também retomou o fôlego da sua tabelinha com Delcio Carvalho, com destaque para a linda e justa homenagem a Clementina de Jesus em “Rainha Quelé”.

Faixa a faixa

Se o Caminho É Meu (Paulinho Mocidade/Jurandir Brinjela): um samba que poderia ser assinado por Dona Ivone.

Vem Ouvir (Penteado do Império): sambão de terreiro com letra e melodia impecáveis de Penteado do Império.

Rainha Quelé (Ivone Lara/Delcio Carvalho): homenagem perfeita a Clementina.

Meu Samba É Luz, É Céu e Mar (Ivone Lara/Delcio Carvalho): samba em defesa da natureza, com padrão de qualidade Ivone-Delcio.

Nos Combates Desta Vida (Ivone Lara/Delcio Carvalho): partido-alto puxado pelo banjo de Ratinho.

Carlos Drummond de Andrade (E Agora, José?) (Ivone Lara/Jorge Aragão): o samba-enredo em tributo ao poeta de Itabira também fez parte da trilha da novela Partido Alto.

Menino Brasileiro (Ivone Lara/Rildo Hora): samba “bem-intencionado” (com coro infantil).

Sem Cavaco, Não (Ivone Lara/Mano Décio da Viola): bonita regravação do primeiro samba gravado por Ivone, em 1970.

Doces Recordações (Ivone Lara/Delcio Carvalho): outra letra espetacular de Delcio sobre a saudade de um grande amor.

Não Fique a se Torturar (Ivone Lara/Arlindo Cruz/Sombrinha): clássico de Ivone, Arlindo e Sombrinha, com destaque para a flauta de Franklin, o tamborim de Bezerra da Silva e o repique de Ubirany.

Resignação (Ivone Lara/Hélio dos Santos): aula de elegância neste samba de Ivone e Tio Hélio com o sete cordas impecável de Raphael Rabello.

Pra Você Voltar (Arlindo Cruz/Neoci Dias/Zeca Pagodinho): samba da ótima safra de compositores surgidos no Cacique de Ramos.

Lucas Nobile

Compartilhe

Ivone Lara (verso)

imagem: reprodução da contracapa do disco

Compartilhe

Disco 6 – Bodas de Ouro (1997)

Embora tenha lançado o seu primeiro disco solo apenas em 1978, aos 56 anos, Dona Ivone Lara já gozava de grande intimidade com o estilo musical mais popular do país havia muito tempo. Prova disso é que, em 1997, quando surgiu a oportunidade de ela gravar um novo álbum, se notou que naquele ano ela completava meio século de samba. A “data-base” para os festejos era 1947, ano em que ela compôs “Nasci para Sofrer” na escola Prazer da Serrinha.

Datas comemorativas à parte, a verdade é que, em 1997, se completavam 12 anos que Dona Ivone não lançava um disco. Portanto, Bodas de Ouro, o seu primeiro disco lançado na era do CD, encerrava um longo jejum da sambista sem gravadora.

Novamente com produção de Rildo Hora, o álbum trazia regravações de clássicos da compositora em duetos dela com grandes nomes da música brasileira, como Gilberto Gil, Djavan, Martinho da Vila, Zeca Pagodinho e Beth Carvalho. Além deles, foram escalados para a festa artistas de gêneros mais populares e que faziam muito sucesso na época, como Netinho de Paula, Toni Garrido, Adriana Ribeiro e Araketu. Uma escolha que ganhava pontos em termos de marketing, mas que deixava muito a desejar e comprometia o resultado do disco, irregular e abaixo da média do restante da discografia de Ivone.

Bodas de Ouro também contava com duas canções inéditas: a que batizava o álbum, bonita homenagem-parceria de Paulo César Pinheiro com Dona Ivone, e “Candeeiro da Vovó”, sobre a avó Sabina e outros antepassados da compositora.

Faixa a faixa

Samba de Roda pra Salvador (Ivone Lara/Delcio Carvalho): bonito e coerente dueto com Gilberto Gil.

Alguém me Avisou (Ivone Lara): arranjo muito distante do universo de Ivone.

Não Chora, Neném (Ivone Lara): a malemolência do canto de Martinho da Vila no partido-alto de Ivone.

Sonho Meu (Ivone Lara/Delcio Carvalho): o maior clássico de Ivone e Delcio na voz de Djavan, com destaque para o solfejo da introdução feito pela autora.

Candeeiro da Vovó (Ivone Lara/Delcio Carvalho)/Oração da Mãe Menininha (Dorival Caymmi): partido-alto de “pergunta e resposta” dividido entre Ivone e Danilo Caymmi.

Mas Quem Disse que Eu Te Esqueço (Ivone Lara/Hermínio Bello de Carvalho): samba atemporal, uma aula de interpretação de Zeca Pagodinho e Dona Ivone.

Acreditar (Ivone Lara/Delcio Carvalho): interpretação cheia de maneirismos de Adriana Ribeiro.

Sorriso Negro (Adilson Barbado/Jorge Portela): Toni Garrido e a atriz Isabel Filardis dividem os vocais.

Força da Imaginação (Ivone Lara/Caetano Veloso): parceria que surgiu em um sonho de Beth Carvalho. Nada mais justo do que a própria Madrinha do Samba regravá-lo.

Enredo do Meu Samba (Ivone Lara/Jorge Aragão)/Mel na Boca (David Corrêa): apesar do arranjo pasteurizado, gravação excelente de Almir Guineto e Ivone.

O Samba Não Pode Parar (Fabricio do Império/Paulo George)/Leva Meu Samba (Ataulfo Alves)/Na Cadência do Samba (Ataulfo Alves/Paulo Gesta): gravação que nada acrescenta aos clássicos do gigante Ataulfo Alves.

Alvorecer (Ivone Lara/Delcio Carvalho): a voz chorosa de Netinho de Paula faria Clara Nunes chorar, seguramente, não de emoção, muito menos de alegria.

Bodas de Ouro (Ivone Lara/Paulo César Pinheiro): primeiro e único samba de Ivone e do craque Paulo César Pinheiro. Infelizmente, a parceria não seguiu em frente.

Lucas Nobile

Compartilhe

Nasci pra Sonhar e Cantar (frente)

imagem: reprodução da capa do disco

Compartilhe

Disco 7 – Nasci pra Sonhar e Cantar (2001)

No início dos anos 2000, Dona Ivone novamente amargava um longo período sem lançar discos. Quatro anos depois de Bodas de Ouro, a possibilidade de uma nova gravação apareceu em 2001, com a proposta de fazer um álbum pela gravadora francesa Lusáfrica. Após conversas com o português José da Silva, dono do selo internacional, Ivone acertou a gravação de Nasci pra Sonhar e Cantar, lançado no mesmo ano em diversos países e também no Brasil.

Produzido por Paulo Cesar Figueiredo e com arranjos do grande violonista João de Aquino, o álbum tem destaque na discografia da artista. Com regravações e mais da metade do repertório formada por inéditas, o disco reafirmava o vigor criativo da compositora, prestes a completar 80 anos na época do lançamento.

Entre as regravações, três canções registradas originalmente no álbum Sorriso Negro, de 1981: “Tendência”, com andamento mais lento, “Axé de Ianga (Pai Maior)” e “A Sereia Guiomar”. Outro samba regravado, “Nasci pra Sonhar e Cantar”, que batizava o disco, apresentava-se como um desafio e tanto. Afinal, seria muito difícil que uma nova gravação daquele clássico de Ivone e Delcio acrescentasse algo ao registro original, histórico. No fim das contas, o arranjo de João de Aquino (violão), com o acordeom de Chiquinho Chagas e a flauta de Dirceu Leite, e a lindíssima interpretação de Dona Ivone resultaram em uma das mais belas gravações de toda a carreira da artista.

O álbum ainda trazia “Chorei, Confesso”, samba de letra e melodia esplêndidas, gravado no ano anterior pelo grupo Fundo de Quintal com ótima interpretação de Sereno. No grupo das inéditas, destaque para “Agora”, de Ivone e Delcio, “Nas Asas da Canção”, dela e de Nelson Sargento, e para alguns temas assinados apenas por Ivone, como “Deus Está Te Castigando” e “Ela É Rainha”.

Faixa a faixa

Deus Está Te Castigando (Ivone Lara): reconhecida como grande melodista, Ivone dá provas de também escrever letras interessantes, como neste samba.

Nasci pra Sonhar e Cantar (Ivone Lara/Delcio Carvalho): regravação histórica com arranjo e interpretações emocionantes.

Nas Asas da Canção (Ivone Lara/Nelson Sargento): parceria entre dois patrimônios do samba.

Um Grande Sonho (Ivone Lara/Bruno Castro): início promissor da parceria entre Ivone e Bruno Castro.

Agora (Ivone Lara/ Delcio Carvalho): bonito samba de Ivone-Delcio, com introdução e solfejos impecáveis.

Poeta Sonhador (Ivone Lara/Paulo Costa Alves): interessante divisão rítmica e letra muito bonita sobre a dor de perder um amor.

Canção da Felicidade (Ivone Lara): letra e melodia de uma compositora completa.

Tendência (Ivone Lara/Jorge Aragão): gravação definitiva de uma obra-prima.

Canto do Meu Viver (Ivone Lara): arranjo de sopros por quem entende do riscado.

Essência de um Grande Amor (Ivone Lara/Sombrinha): assim como no restante do disco, destaque para a divisão rítmica e para a opção de João de Aquino em ressaltar a percussão.

Chorei, Confesso (Ivone Lara/Delcio Carvalho): também gravada pelo Fundo de Quintal, tesouro de Ivone e Delcio.

Ela É Rainha (Ivone Lara): percussão quente em um samba de letra e melodia simples.

Axé de Ianga (Pai Maior) (Ivone Lara): com a influência da matriz africana, uma das grandes composições de Ivone em ótima regravação.

A Sereia Guiomar (Ivone Lara/Delcio Carvalho): regravação da canção lançada em 1981.

Lucas Nobile

 

Compartilhe

Nasci pra Sonhar e Cantar (verso)

imagem: reprodução da contracapa do disco

Compartilhe

Disco 8 – Sempre a Cantar (2004)

Segundo álbum de Dona Ivone Lara pela Lusáfrica, Sempre a Cantar representava uma nova tentativa de projetar a carreira da compositora internacionalmente e transformá-la numa “Cesária Évora tupiniquim”, como informavam jornais do país. As reportagens faziam alusão ao fato de o mesmo selo francês que transformara a cantora de Cabo Verde numa estrela mundial apostar então as suas fichas na sambista brasileira.

No fim das contas, a imagem de Ivone, que já tinha certo reconhecimento no exterior por diversas turnês que fizera em diferentes países, não teve um boom mundial, mas a cantora podia se orgulhar de ter entregue ao selo francês e ao público um excelente disco. Sempre a Cantar podia não igualar o nível de qualidade do repertório dos primeiros álbuns da carreira de Ivone, o que não soava como um demérito. Ao contrário, o disco ainda trazia grande vitalidade criativa da artista em termos de composições e de interpretações.

Como principal destaque, o álbum trazia arranjos assinados por quatro competentes arranjadores: Rildo Hora, Paulão 7 Cordas, Wanderson Martins e Leonardo Bruno. O repertório contava com 13 composições inéditas, sendo seis com Delcio Carvalho e o restante com outros parceiros já conhecidos de Ivone, como Rildo, Sombrinha, Bruno Castro e o cavaquinista Maurício Verde.

Sempre a Cantar merece destaque na discografia de Dona Ivone pelo alto gabarito de algumas canções, como “Castelo de Ilusão”, só de Ivone, e “Vem Novamente”, dela e de Delcio.

Faixa a faixa

Na Própria Palma (Ivone Lara/Bruno Castro/Mauricio Verde): melodia inspirada de Ivone.

A Cigana (Ivone Lara/Delcio Carvalho): interpretação impressionante para uma cantora octogenária.

Você Confessou (Ivone Lara): a marca inconfundível dos contracantos de Ivone Lara.

A Força do Criador (Ivone Lara/Bruno Castro): melodia singela e letra inspirada de Bruno Castro.

Luz da Paz (Ivone Lara/Bruno Castro): samba com caminhos melódicos sem surpresas.

Coração Apaixonado (Ivone Lara/Rildo Hora): Ivone e Rildo acertam a mão nesta parceria.

Vida que a Gente Leva (Ivone Lara/Delcio Carvalho): bela letra de Delcio.

Castelo de Ilusão (Ivone Lara): linda introdução em um belíssimo samba assinado apenas por Ivone.

O Trovador (Ivone Lara/Delcio Carvalho): a influência do choro na melodia de Ivone e a facilidade de Delcio em fazer letras impecáveis.

Receio o Amor (Ivone Lara/Sombrinha): interessante divisão dos versos de Sombrinha.

Vem Novamente (Ivone Lara/Delcio Carvalho): samba dolente e mais um grande momento da parceria Ivone-Delcio.

Nova Era (Ivone Lara/Delcio Carvalho): versos inspirados como “O tempo passa / Essa vida é tão breve / Vê se ao menos se atreve a me querer com mais calor”.

Sem Dizer Adeus (Ivone Lara/Delcio Carvalho): samba com a temática clássica da dupla Ivone-Delcio – a entrega do coração seguida por uma desilusão amorosa.

Alguém me Avisou (Ivone Lara)/Acreditar (Ivone Lara/Delcio Carvalho)/Sonho Meu (Ivone Lara/Delcio Carvalho): regravação em pot-pourri de clássicos.

Lucas Nobile

 

Compartilhe

Disco 9 – Canto de Rainha (2009)

Gravado ao vivo em agosto de 2009 no Canecão, Canto de Rainha foi lançado em CD e em DVD, o primeiro da carreira de Dona Ivone Lara. E o título do trabalho, extremamente oportuno e coerente com a trajetória da compositora, teve origem 26 anos antes do lançamento.

Em 1983, o Fundo de Quintal lançou o excelente disco Nos Pagodes da Vida Vol. 3, terceiro álbum do grupo nascido no Cacique de Ramos. O disco, que trazia belíssima gravação de “Enredo do Meu Samba”, de Ivone e Jorge Aragão, tinha ainda como terceira faixa uma homenagem histórica à Primeira-Dama do Samba, “Canto de Rainha”, composta por Arlindo Cruz e Sombrinha.

Já em 2009, quando a compositora lançava o seu primeiro DVD, nada mais justo que a composição dos ex-integrantes do Fundo de Quintal batizasse o trabalho. Com muitos convidados, o show contou com grandes nomes da música brasileira dividindo o palco com Dona Ivone para cantar clássicos da sua carreira.

Além de medalhões da chamada MPB, como Caetano Veloso e Gilberto Gil, o disco trazia ainda figuras importantes do samba, como Beth Carvalho e Zeca Pagodinho, e personagens marcantes na carreira de Ivone, como Delcio Carvalho, Jorge Aragão, Bruno Castro, Arlindo Cruz e a Velha Guarda do Império Serrano.

Com direção musical de Tulio Feliciano e arranjos de Paulão 7 Cordas, Canto de Rainha tem importância na discografia de Dona Ivone por apresentar registros bonitos dela ao lado de grandes artistas.

Faixa a faixa

Sorriso Negro (Adilson Barbado/Jorge Portela): clássico imortalizado na voz de Ivone.

Alvorecer (Ivone Lara/Delcio Carvalho): poema irretocável de Delcio Carvalho.

Samba de Roda pra Salvador (Ivone Lara): gravada por Gilberto Gil.

Força da Imaginação (Ivone Lara/Caetano Veloso): belo dueto entre os autores da canção.

Mas Quem Disse que Eu Te Esqueço (Ivone Lara/Hermínio Bello de Carvalho): solfejo a capela de Ivone na introdução do lindíssimo samba dela e de Hermínio.

Nas Escritas da Vida (Ivone Lara/Bruno Castro): encontro entre Ivone e o seu parceiro mais recente.

Enredo do Meu Samba (Ivone Lara/Jorge Aragão): duo emocionante de Ivone e do elegante Jorge Aragão.

Acreditar (Ivone Lara/Delcio Carvalho): um clássico interpretado finalmente por Delcio Carvalho.

Sonho Meu (Ivone Lara/Delcio Carvalho): samba atemporal pela “Rainha” e pela “Madrinha” do samba, Beth Carvalho.

Tendência (Ivone Lara/Jorge Aragão): interpretação impecável de Ivone neste samba antológico.

Canto de Rainha (Arlindo Cruz/Sombrinha): a homenagem musical mais bela já feita a Ivone, na voz do autor Arlindo Cruz.

Não Chora, Neném (Ivone Lara): Zeca, Arlindo e Ivone, o encontro de três partideiros de primeira.

Dizer Não pro Adeus (Ivone Lara/Bruno Castro/Luiz Carlos da Villa): interpretação definitiva de Zeca Pagodinho para o lindo samba de Ivone, Bruno Castro e o craque Luiz Carlos da Villa.

Serra dos Meus Sonhos Dourados (Carlinhos Bem-Te-Vi): homenagem merecida à Velha Guarda da escola de coração de Ivone.

Lucas Nobile

Compartilhe

Nas Escritas da Vida (frente)

imagem: reprodução da capa do disco

Compartilhe

Disco 10 – Nas Escritas da Vida (2010)

Quando, em 2010, Dona Ivone – que já havia assinado parcerias com letristas do gabarito de Delcio Carvalho, Jorge Aragão, Hermínio Bello de Carvalho, Tio Hélio, Fuleiro, Arlindo Cruz, Sombrinha e Nelson Sargento – resolveu gravar um disco com o cavaquinista e compositor Bruno Castro, até seu staff demonstrou certa desconfiança. À época, questionava-se a pouca experiência de Bruno como compositor e cantor. Ao que Dona Ivone respondeu publicamente: “Se o sujeito não cantar, é que nunca vai ter experiência mesmo”.

A desconfiança fazia sentido: Bruno era 51 anos mais novo do que Ivone, que já colecionava parceiros do primeiro escalão da música brasileira. A compositora e o cavaquinista já se conheciam (e trabalhavam juntos havia tempo), desde que Bruno passou a integrar a banda de Dona Ivone para tocar cavaquinho no lugar de Maurício Verde.

No fim das contas, Nas Escritas da Vida foi lançado em junho de 2010 com 12 sambas assinados pela dupla. No repertório, seis canções já tinham sido gravadas por outros artistas: “Divina Missão”, “Esbanjando Alegria”, “Investida Fatal”, “Um Grande Sonho”, “Escravo da Dor” e a própria “Nas Escritas da Vida”.

A outra metade do disco era formada por inéditas: a bonita “Canção em Madrigais”, da dupla com Luiz Carlos da Villa, o sambão “No Coração de Madureira”, “Convicção Tardia”, “Destino”, “Noites de Magia” e “Sagrado Lugar”. Bem recebido pela crítica, o disco não trazia a qualidade inquestionável dos primeiros álbuns da carreira de Ivone, mas resultava como um bonito registro na sua discografia e mais uma prova da sua vitalidade e da sua longevidade criativa ao se juntar para compor com artistas tão mais novos do que ela, como Bruno Castro, André Lara (neto de Ivone) e Maurício Verde.

Faixa a faixa

Nas Escritas da Vida (Ivone Lara/Bruno Castro): regravação de um dos sambas mais bonitos da dupla.

Divina Missão (Ivone Lara/Bruno Castro): destaque para a melodia de Ivone.

Canção em Madrigais (Ivone Lara/Bruno Castro/Luiz Carlos da Villa): interpretação afinada, mas menos emocionada.

No Coração de Madureira (Ivone Lara/Bruno Castro/Maurício Verde): sambão sobre um dos maiores celeiros de samba do país.

Convicção Tardia (Ivone Lara/Bruno Castro): uma aula de interpretação de Dona Ivone.

Esbanjando Alegria (Ivone Lara/Bruno Castro): samba em homenagem ao banjo.

Noites de Magia (Ivone Lara/Delcio Carvalho/Bruno Castro): um dos melhores momentos do disco, com lindo dueto entre Dona Ivone e Bruno.

Investida Fatal (Ivone Lara/André Lara/Bruno Castro): letra e melodia bem casadas.

Destino (Ivone Lara/Bruno Castro): temática recorrente na obra de Dona Ivone, uma letra que versa sobre a vocação de um sambista.

Escravo da Dor (Ivone Lara/Bruno Castro): como o próprio título sugere, uma canção sobre a clássica dor de amor.

Sagrado Lugar (Ivone Lara/Bruno Castro): sambão em homenagem à Estudantina, lendário salão musical do Rio.

Um Grande Sonho (Ivone Lara/Bruno Castro): uma visão otimista para enfrentar as derrotas no caminho.

Lucas Nobile

Compartilhe

Nas Escritas da Vida (verso)

imagem: reprodução da contracapa do disco

Compartilhe

Bodas de Coral no Samba Brasileiro (frente)

imagem: reprodução da capa do disco

Compartilhe

Disco 11 – Bodas de Coral no Samba Brasileiro (2010)

A parceria entre Dona Ivone Lara e Delcio Carvalho não só está entre as maiores do samba, mas também figura tranquilamente entre as mais espetaculares de toda a história da música popular brasileira. Os clássicos da dupla dispensam apresentações e estouraram em todo o país nas vozes de intérpretes consagrados, como Maria Bethânia, Gal Costa, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Clara Nunes, Roberto Ribeiro e Elza Soares.

Em 2007, a produção de Delcio atentou para o fato de que se completavam 35 anos da parceria entre os dois, surgida em 1972 no mesmo dia da morte de Silas de Oliveira. Na ocasião, nasceu “Derradeira Melodia”, em homenagem ao poeta maior do Império Serrano. Logo depois viria “Alvorecer” e, nos anos seguintes, uma leva de sucessos que incluía “Acreditar”, “Liberdade”, “Sonho Meu” e “Nasci para Sonhar e Cantar”.

Dona Ivone e Delcio gravaram Bodas de Coral no Samba Brasileiro em 2008, no Teatro Municipal de Niterói, e o disco foi lançado dois anos depois. No repertório, além dos clássicos interpretados pela dupla, outras canções da parceria menos conhecidas, como “Vai na Paz”, “Cigana” e “Sonho e Saudade”. Além delas, cinco composições inéditas: “A Festa”, cantada por Alcione e Mart’nália, “Ainda Baila no Ar”, por Wilson das Neves e Dudu Nobre, “O Tempo Passou”, “Sol de Verão” e “Nem É Preciso Falar”.

Com direção-geral de Mariozinho Lago e direção musical e arranjos de Paulão 7 Cordas, Bodas de Coral no Samba Brasileiro não trazia tanta força em termos de interpretação, mas resultou como um registro mais do que justo da parceria entre dois gigantes da música brasileira.

Faixa a faixa

Derradeira Melodia (Ivone Lara/Delcio Carvalho): samba à altura do homenageado Silas de Oliveira, com a linda voz de Delcio.

Alvorecer (Ivone Lara/Delcio Carvalho): melodia e letra irrepreensíveis.

Sorriso de Criança (Ivone Lara/Delcio Carvalho): clássico de 1979 em lindo registro.

Amor sem Esperança (Ivone Lara/Delcio Carvalho): exemplo de melodia sofisticada e popular.

Sonho e Saudade (Ivone Lara/Delcio Carvalho): interpretação carregada de sentimento por Ivone.

Nem É Preciso Falar (Ivone Lara/Delcio Carvalho/Paulinho de Carvalho): inédita que reafirma a longevidade da criatividade da parceria Ivone-Delcio.

O Tempo Passou (Ivone Lara/Delcio Carvalho): composição, canto de Delcio e instrumental de alto nível.

Ainda Baila no Ar (Ivone Lara/Delcio Carvalho/André Lara): tabelinha entre quem entende do riscado – Das Neves e Dudu Nobre.

Sol de Verão (Ivone Lara/Delcio Carvalho): samba romântico abaixo do restante do repertório.

Cigana (Ivone Lara/Delcio Carvalho): regravação que perde para a original.

A Festa (Ivone Lara/Delcio Carvalho): gravação que vale pelo canto de Alcione.

Vai na Paz (Ivone Lara/Delcio Carvalho): composição mediana para o potencial de Ivone e Delcio.

Candeeiro da Vovó (Ivone Lara/Delcio Carvalho): regravação que acrescenta à original de 1997.

Nos Combates Dessa Vida/A Sereia Guiomar (Ivone Lara/Delcio Carvalho): canto verdadeiro de Ivone para duas joias da dupla.

Sonho Meu/Acreditar (Ivone Lara/Delcio Carvalho): gravação apenas com coro e violão, duas obras-primas que dispensam firulas de arranjos.


Lucas Nobile

Compartilhe

Bodas de Coral no Samba Brasileiro (verso)

imagem: reprodução da contracapa do disco

Compartilhe

Disco 12 – Baú da Dona Ivone (2012)

Trabalho mais recente de Dona Ivone Lara, Baú da Dona Ivone foi lançado não comercialmente em 2012. Viabilizado pela prefeitura do Rio de Janeiro e distribuído em bibliotecas e escolas da rede pública da cidade, o álbum reunia composições inéditas, algumas delas com mais de 40 anos.

Com produção de Bruno Castro e arranjos e regência de Maurício Verde, o álbum não trazia Dona Ivone cantando, mas apresentava as suas canções na voz de convidados. E não eram muitos os artistas com o poder de reunir nomes daquela grandeza em um disco só.

Logo na faixa de abertura, “Dia de Samba no Bonfim” (Ivone Lara/Bruno Castro), os microfones eram divididos por Caetano Veloso e Maria Bethânia. Na sequência, Nei Lopes interpretava “Outra Vez”, parceria sua com Ivone feita na década de 1970. Ao longo do disco, outros bambas davam o ar da graça, como Nelson Sargento, em “Vento da Tarde” (Ivone Lara/Delcio Carvalho/André Lara), e Monarco, em uma aula de interpretação no samba “Sombras na Parede”, composto pelo trio Ivone-Delcio-André.

Baú da Dona Ivone, que ainda trazia as participações de Áurea Martins (em “Adeus ao Senhor da Razão”, de Ivone e Bruno Castro), Sombrinha (em “Não me Maltrata”, também de Bruno e Ivone) e Beth Carvalho (em “Não É Miragem”, samba feito por Ivone e Delcio na década de 1980, em crítica ao regime militar – algo raro no repertório da dupla), também contava com as participações de nomes de gerações mais recentes, como André Lara, Diogo Nogueira, Luiza Dionízio e Juninho Thybau, sobrinho de Zeca Pagodinho.

Enfim, um disco bem gravado, com boas escolhas de repertório, mas que pecava apenas pela ausência da voz da própria homenageada.

Faixa a faixa

Dia de Samba no Bonfim (Ivone Lara/Bruno Castro): ijexá com lindo dueto de Bethânia e Caetano.

Outra Vez (Ivone Lara/Nei Lopes): letra e interpretação com a categoria do craque Nei Lopes.

Império e Portela (Ivone Lara/Diogo Nogueira/Ciraninho/Bruno Castro): composição interessante sobre as duas escolas de Madureira.

Vento da Tarde (Ivone Lara/Delcio Carvalho/André Lara): o canto e a sabedoria de Nelson Sargento.

Não me Maltrata (Ivone Lara/Sombrinha/Bruno Castro): samba com uma segunda parte interessantíssima, com a assinatura de Sombrinha.

Não É Miragem (Ivone Lara/Delcio Carvalho): samba de teor político, raro no repertório de Ivone, muito bem defendido por Beth Carvalho.

A Menina e o Tempo (Ivone Lara/Bruno Castro/Zé Luiz do Império): letra biográfica sobre a infância de Dona Ivone.

Adeus ao Senhor da Razão (Ivone Lara/Bruno Castro): participação elegante de Áurea Martins em um samba bonito, na média.

O Preá (Incidental) (Bruno Castro)/Luta Imperiana (Ivone Lara/André Lara/Bruno Castro): canto afinado em composição autobiográfica de André Lara.

Vai (Ivone Lara/Delcio Carvalho): a voz aveludada e agradável de Delcio Carvalho em mais um lindo samba dele e de Ivone.

Sombras na Parede (Ivone Lara/Delcio Carvalho/André Lara): grande destaque do disco, aula de interpretação por Monarco.

À Procura da Felicidade (Ivone Lara): interpretação de Juninho Thybau com pegada de pagode para uma bela melodia de Ivone.

Lucas Nobile

Compartilhe

As dez mais regravadas de Dona Ivone Lara

Compositora capaz de criar melodias ao mesmo tempo sofisticadas e extremamente populares, Dona Ivone Lara teve o privilégio de encontrar parceiros de talento incontestável ao longo de quase 70 anos de vivência no universo do samba. Mais do que isso, as suas canções extrapolaram as fronteiras do gênero e ficaram conhecidas em todo o território brasileiro.

Nesta seleção das dez músicas mais regravadas de Dona Ivone segundo o Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (Ecad), há composições apenas dela, como “Alguém Me Avisou” – reafirmando o quão completa é a artista, criadora não apenas de melodias, mas também de versos inesquecíveis –, e de parceiros de alto quilate, como Silas de Oliveira, no antológico samba-enredo “Os Cinco Bailes da História do Rio”, de 1965, Hermínio Bello de Carvalho (“Mas Quem Disse que Eu Te Esqueço”) e Jorge Aragão (“Tendência” e “Enredo do Meu Samba”).

Sem grandes surpresas, metade das dez mais regravadas de Ivone é composta por canções assinadas por ela e pelo seu parceiro mais constante, Delcio Carvalho. Nesta lista figuram verdadeiros clássicos do cancioneiro popular brasileiro, como “Sonho Meu”, “Acreditar”, “Alvorecer”, “Nasci pra Sonhar e Cantar” e “Liberdade”. Não à toa, a dupla Ivone-Delcio definia a tabelinha entre os dois como uma “parceria mediúnica”, em que ambos se entendiam e compunham com uma facilidade fora do comum.

Nesta compilação, composições criadas entre as décadas de 1960 e 1980, período de maior fertilidade artística na trajetória de Dona Ivone Lara.

Faixa a faixa

Sonho Meu (Ivone Lara/Delcio Carvalho): a composição de maior sucesso da dupla fez de Maria Bethânia a primeira mulher a vender mais de 1 milhão de discos no Brasil.

Acreditar (Ivone Lara/Delcio Carvalho): um dos sambas mais conhecidos de todos os tempos, que estourou na voz de Roberto Ribeiro.

Tendência (Ivone Lara/Jorge Aragão): a parceria com Aragão é sempre muito pedida em rodas de samba por todo o país.

Mas Quem Disse que Eu Te Esqueço (Ivone Lara/Hermínio Bello de Carvalho): outro samba belíssimo com refrão fácil e extremamente conhecido do público.

Alguém Me Avisou (Ivone Lara): a joia composta apenas por Ivone é tão conhecida que muita gente pensa ser dela e de Delcio Carvalho.

Enredo do Meu Samba (Ivone Lara/Jorge Aragão): obra-prima com Jorge Aragão.

Alvorecer (Ivone Lara/Delcio Carvalho): um dos poemas mais belos feitos por Delcio.

Nasci pra Sonhar e Cantar (Ivone Lara/Delcio Carvalho): casamento perfeito entre melodia e letra.

Os Cinco Bailes da História do Rio (Ivone Lara/Silas de Oliveira/Antônio Bacalhau): um dos sambas-enredo mais lembrados de todos os tempos.

Liberdade (Ivone Lara/Delcio Carvalho): outro sucesso atemporal na voz de Roberto Ribeiro.

Lucas Nobile

 

Compartilhe

As dez mais regravadas de Dona Ivone Lara

Adicionar playlist completa

Compartilhe

Dez canções de Dona Ivone Lara por outros intérpretes

Cantora de extremo talento, com grande capacidade de abrir vozes – técnica que absorveu nas aulas de canto orfeônico na escola Orsina da Fonseca, na infância –, Dona Ivone Lara fez gravações de altíssima qualidade nos seus discos solo. Ainda assim, os seus álbuns tiveram vendagens irrisórias e a artista viu grande parte das suas composições estourar na voz de outros intérpretes.

Exemplos mais conhecidos dessas canções que fizeram grande sucesso em todo o país são “Sonho Meu”, na gravação de Maria Bethânia e Gal Costa, no disco Álibi, de Bethânia, lançado em 1978, e “Alguém Me Avisou”, por Bethânia, Caetano Veloso e Gilberto Gil, no álbum Talismã, de 1980.

Antes disso, Dona Ivone viu outros dois sambas seus feitos com Delcio Carvalho ganhar grande repercussão nacional na década de 1970, na voz de renomados cantores: Clara Nunes, com “Alvorecer”, em 1974, e “Acreditar”, com Roberto Ribeiro, em 1976.

Ainda nos anos 1970, a compositora entregou outras joias a intérpretes de enorme talento, como Elza Soares (“Samba, Minha Raiz”, de Ivone e Delcio Carvalho), Alcione (“Tiê”, de Ivone, Hélio dos Santos e Fuleiro) e Cristina Buarque (“Dei-Te Liberdade”, só de Ivone).

Na década seguinte, Dona Ivone Lara ainda teria composições suas gravadas por outras figuras pra lá de renomadas, como Elizeth Cardoso (na belíssima “Felicidade Segundo Eu”, de Ivone e Nei Lopes), Paulinho da Viola (na clássica “Mas Quem Disse que Eu Te Esqueço”, dela e de Hermínio Bello de Carvalho), Beth Carvalho (na perene “Tendência”, de Ivone e Jorge Aragão) e Sandra de Sá (na funkeada “Enredo do Meu Samba”, da dupla Ivone-Aragão, que foi tema de abertura da novela Partido Alto, em 1984).

Faixa a faixa

Alvorecer (Ivone Lara/Delcio Carvalho): com interpretação atemporal de Clara Nunes em 1974, a faixa batizou o LP da cantora mineira naquele ano.

Acreditar (Ivone Lara/Delcio Carvalho): sucesso estrondoso com Roberto Ribeiro em 1976.

Samba, Minha Raiz (Ivone Lara/Delcio Carvalho): composição de Ivone e Delcio muito bem defendida pela voz de Elza Soares, também em 1976.

Dei-Te Liberdade (Ivone Lara): o canto afinadíssimo de Cristina Buarque, em 1976, para este samba dolente e de melodia impecável.

Tiê (Ivone Lara/Hélio dos Santos/Mestre Fuleiro): primeira composição de Ivone, este samba foi gravado por Alcione em 1976, em grande interpretação.

Sonho Meu (Ivone Lara/Delcio Carvalho): gravação histórica de Bethânia e Gal Costa com o cavaquinho de Rosinha de Valença, em 1978.

Alguém Me Avisou (Ivone Lara): dispensa apresentação nas vozes de Bethânia, Caetano e Gil.

Tendência (Ivone Lara/Jorge Aragão): sucesso na voz de Beth Carvalho em 1981.

Mas Quem Disse que Eu Te Esqueço (Ivone Lara/Hermínio Bello de Carvalho): samba que já havia sido muito bem gravado por Nana Caymmi, ganhou registro definitivo com Paulinho da Viola em 1983.

Enredo do Meu Samba (Ivone Lara/Jorge Aragão): com interpretação funkeada de Sandra de Sá, este samba estourou na abertura da novela Partido Alto.

Felicidade Segundo Eu (Ivone Lara/Nei Lopes): gravação histórica com Elizeth Cardoso, Paulinho da Viola, Dona Ivone, Elton Medeiros e Sereno.

Lucas Nobile

Compartilhe

imagem: acervo da família

Compartilhe

Dez joias ocultas de Dona Ivone Lara

Como os seus discos solo não decolaram em termos de vendas e grande parte das suas composições ficou conhecida na voz de outros intérpretes, Dona Ivone Lara tem na discografia uma série de músicas de sua autoria que são verdadeiras joias ocultas.

Esta seleção reúne algumas canções feitas por Dona Ivone, de altíssima qualidade, que acabaram ofuscadas pelos próprios sucessos. A começar pelo lindo samba assinado apenas por ela “Amor Inesquecível”. Lançada no disco Viva o Samba!, em 1965, e interpretada pela cantora Francineth, a composição foi a primeira de Ivone gravada na sua trajetória. Na década seguinte, a própria autora faria um registro impecável no LP História das Escolas de Samba – Império, de 1974.

A lista traz ainda as duas primeiras gravações de Dona Ivone em disco: “Sem Cavaco, Não” e “Agradeço a Deus”, ambas feitas com Mano Décio da Viola e registradas por ela no álbum Sargentelli e o Sambão – Ao Vivo – o Botequim da Pesada.

Ainda na década de 1970, a quantidade de obras-primas produzidas pela dupla Ivone Lara-Delcio Carvalho é de tirar o fôlego. Além dos grandes sucessos, os dois compuseram sambas belíssimos, como “Minha Verdade”, que abria o primeiro álbum solo de Ivone, em 1978, além de “Quisera”, do disco Sorriso de Criança, de 1979, da linhagem das grandes obras assinadas por Cartola. Alguns anos antes, em 1972, a dupla havia escrito a sua primeira canção, a histórica “Derradeira Melodia”, no mesmo dia da morte de Silas de Oliveira. Décadas depois, outra joia oculta, “Chorei, Confesso”, gravada magistralmente por Sereno e pelo grupo Fundo de Quintal em 1999.

Enfim, independentemente de sucesso ou de reconhecimento, Dona Ivone compôs sambas primorosos, com o seu já conhecido e tão falado dom de criar melodias sinuosas e sublimes. Esta seleção é apenas um pequeno recorte dessas joias ocultas que não tocaram no rádio, mas não merecem passar em branco.

Faixa a faixa

Amor Inesquecível (Ivone Lara): primeira composição de Ivone, esta canção lindíssima foi gravada em 1965 pela cantora Francineth.

Sem Cavaco, Não (Ivone Lara/Mano Décio da Viola): primeira música de Ivone gravada por ela mesma, em registro feito ao vivo em 1970.

Agradeço a Deus (Ivone Lara/Mano Décio da Viola): outro samba espetacular gravado pela própria autora em 1970.

Derradeira Melodia (Ivone Lara/Delcio Carvalho): primeira parceria de Ivone Lara e Delcio Carvalho, uma das mais bonitas homenagens a Silas de Oliveira.

Minha Verdade (Ivone Lara/Delcio Carvalho): obra-prima que abre o primeiro álbum solo de Dona Ivone.

Quisera (Ivone Lara/Delcio Carvalho): samba que Cartola assinaria embaixo com firma reconhecida.

O Meu Amor Tem Preço (Ivone Lara): joia rara composta apenas por Ivone em 1979.

Chorei, Confesso (Ivone Lara/Delcio Carvalho): interpretado por Dona Ivone nos anos 2000, este samba tem ótima e original gravação feita pelo Fundo de Quintal em 1999.

Força da Imaginação (Ivone Lara/Caetano Veloso): primeira e única parceria entre Ivone e Caetano, a canção surgiu num sonho de Beth Carvalho.

Sombras na Parede (Ivone Lara/Delcio Carvalho/André Lara): gravado em 2012 na voz de Monarco, este samba reafirma a longevidade do vigor criativo de Ivone.

Lucas Nobile

Compartilhe

Dez joias ocultas

Adicionar playlist completa