Doces recordações

imagem: acervo da família

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Senhora de adjetivos

Entidade. Imaculada dama do samba. Pioneira. Estilista do contracanto. Rainha. Beleza do Rio. Diva. Síntese do samba. Lenda viva. Grande mestra. Deusa. Maior sambista de todos os tempos.

Dona Ivone Lara foi reconhecida pela imprensa com todos esses adjetivos.

Entre as reverências, a que mais pegou foi “primeira-dama do samba”, defendida por Hermínio Bello de Carvalho.

Uma das mais certeiras veio de Nei Lopes, “senhora da canção”. E a mais carinhosa, de Caetano Veloso, “coisa mais linda do Brasil”.

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O samburá na elite do Carnaval

Em 1965, ao compor o samba-enredo “Os Cinco Bailes da História do Rio”, com Silas de Oliveira e Antônio Bacalhau, Dona Ivone se tornou a primeira mulher a fazer parte da ala de compositores de uma escola de samba da elite do Carnaval carioca. Como os integrantes dessa ala desfilavam com um terninho branco, Ivone achava que a roupa não lhe cairia bem. Preferiu desfilar na ala das Baianas da Cidade Alta, onde se sentia mais à vontade. Durante os desfiles, levava sempre um samburá com comidas e bebidas para distribuir durante o préstito. Distinta, frustrava os integrantes da escola que a procuravam a fim de descolar bebida alcoólica para turbinar a folia. No samburá de Dona Ivone, só comes e bebes sem álcool.

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Dona Ivone atriz

Filmado em 1978, em Salvador e Rio Bonito, na Bahia, A Força de Xangô, de Iberê Cavalcanti, tem no elenco Dona Ivone Lara. No mesmo ano em que lançou seu primeiro disco, a sambista deu vida a Zulmira de Iansã, mulher apaixonada pelo mulherengo Tonho Tiê, interpretado por Geraldo Rosa. Entre as “rivais” de Zulmira está Iaba (Elke Maravilha), um exu em forma de mulher. O elenco conta ainda com Zezé Motta, Ana Maria Silva e Grande Otelo, entre outros.

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Seção de vídeo

A Força de Xangô

Trecho do filme A Força de Xangô, de Iberê Cavalcanti, no qual Dona Ivone Lara atuou como Zulmira de Iansã.

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Instrumentista

Dona Ivone Lara aprendeu a tocar cavaquinho com o tio Dionísio | imagem: Wilson Montenegro

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A origem do Dona

A primeira vez que a compositora foi chamada pelo nome artístico “Dona” Ivone Lara foi em 1970, no disco Sargentelli e o Sambão – Ao Vivo – o Botequim da Pesada. O tratamento foi criado pelo próprio Sargentelli e pelo produtor Adelzon Alves. Em 1978, quando terminou de gravar o primeiro álbum solo, Ivone ainda relutava em ser chamada de Dona. Aos 56 anos, achava-se nova demais para o tratamento. À revelia da artista, Adelzon mandou a arte do disco para a gráfica. O nome pegou e ela nunca mais o abandonou. Em partes, pois em 1985 lançou o LP Ivone Lara e disse publicamente que o Dona nunca havia lhe trazido sorte em termos de venda de discos.

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Vida de enfermeira 1

Carteira de sócia benemérita do Sindicato de Enfermagem do Rio de Janeiro (frente)

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Vida de enfermeira 2

Carteira de sócia benemérita do Sindicato de Enfermagem do Rio de Janeiro (verso)

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Vida de enfermeira 3

Diploma da escola de enfermagem, de 1941

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Ameaçada de suspensão

Na década de 1970, Dona Ivone e integrantes do Império Serrano viajaram para uma apresentação em Paris. Para poder participar da turnê, a compositora teve de faltar no serviço que desempenhava no Hospital do Engenho de Dentro como assistente social.

No retorno, deu de cara com seu superior, que lhe mostrou uma reportagem publicada na revista O Cruzeiro com uma foto de Ivone vestida de baiana na França. Sem jeito, ela ainda ouviu do chefe: “Se disser que faltou porque estava doente, leva uma suspensão”.

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Assistente social

Certidão de assistente social (1964)

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Por um “rockódromo”

Que Dona Ivone Lara gosta de outros gêneros musicais além do samba, isso não é novidade. Desde a infância, recebeu influência de estilos como choro, marcha-rancho carnavalesca, serestas e jongo. E a primeira-dama do samba já curtiu um rock. Em 1985, assistiu pela TV aos shows da primeira edição do Rock in Rio e elogiou os artistas brasileiros que participaram do festival. Mais: à época, discutia-se a possibilidade de desmontarem a Cidade do Rock, ao que Ivone retrucou: “Há espaço para todo mundo. Se existe o sambódromo, por que não pode haver o ‘rockódromo’?”.