Foto: Marcus Steinmeyer

Na Cidade

O percurso de Sueli pela cidade de São Paulo passa pela Lapa, Vila Bonilla, Centro, Liberdade, Bela Vista e Butantã

Nascida na capital paulista, em 1950, Sueli Carneiro coleciona pedaços  da maior cidade do Brasil e da América Latina, em sua memória afetiva. Gabriela Leandro Pereira (*), professora adjunta da Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal da Bahia (UFBA) escreveu para o Itaú Cultural, pequenos textos de cada um de seus caminhos.

LAPA

Largo de Baixo – ali nasceu Sueli Carneiro, em 1950, filha de José Horácio e Eva.

Largo da Lapa/Estação da Lapa: estação de trem na qual o pai de Sueli exerceu inicialmente a função de bilheteiro, tornando-se depois chefe da estação. Ela caminhava todos os dias até o lugar para encontrar com o pai, que lhe dava dinheiro para que comprasse balas na venda ao lado.

Largo da Lapa: ali ficava o Grupo Escolar Guilherme Kuhlmann, fundado em 1924 como Primeira Escola Mista Urbana da Lapa de Baixo. Hoje chamado Escola Estadual Guilherme Kuhlmann, o imóvel foi tombado pelo Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo. Aqui, Sueli iniciou formalmente sua vida escolar em 1957, depois de ter sido alfabetizada em casa por sua mãe, dona Eva. Ainda se encontra lá o pé de jequitibá, que ela lembra ter plantado com a professora e demais crianças da turma.  

VILA BONILHA

Rua Baltazar da Silveira: neste distrito de Pirituba, de cerca de 135 anos de existência, Sueli morou primeiro nesta rua, localizada a 15 km da Praça da Sé. Era habitada por pequenos funcionários ferroviários, da indústria e caminhoneiros. Na parte de cima moravam majoritariamente famílias brancas; no meio, a rua era misturada; na parte de baixo habitavam majoritariamente as famílias negras.  

Rua Paula Ferreira: no final da adolescência Sueli se mudou com a família para essa rua próxima da Baltazar Silveira. Apesar da vida sem luxo, a Vila Bonilha propiciou à Sueli importantes encontros, como com a vizinha Maricota e suas filhas, cuja casa frequentava. Sambista e funcionária pública, Maricota trabalhava no posto de saúde e integrava a escola de samba Camisa Verde e Branco. Homens e mulheres da escola, compositores e o povo do candomblé frequentavam sua casa em festas e churrascos na laje. Ali, ela começou a compreender o papel da mulher e do feminino em uma perspectiva não ocidental de mundo, entre iabás, orixás femininas.  

CENTRO

Secretaria da Fazenda de São Paulo: Sueli começou a trabalhar no imponente edifício de 20 andares localizado na Rua Rangel Pestana, nº 300, em 1972. Com o deslocamento cotidiano para o centro, a cidade e o mundo de Sueli se ampliaram. O percurso até sua casa demorava mais de uma hora de ônibus, no trajeto Penha-Lapa.   

Rua Maria Paula: em 1971, durante a festa de aniversário do amigo Paulo Silas, Sueli conheceu Maurice Jacoel, com quem casaria dois anos depois, e que viria a ser o pai de Luanda, sua única filha. Nascido no Cairo, Maurice é filho único de família judaica, que imigrou para o Brasil com os pais em 1957, fugindo da Guerra de Suez. Quando começou a namorar com Maurice, a família dele morava na rua Maria Paula, no centro da cidade, em um apartamento que parecia uma biblioteca repleta de livros.

Loja Mappin: em 1973, Sônia Nascimento levou Sueli na loja Mappin, em frente ao Theatro Municipal, para comprar uma roupa bonita para o casamento. A rede varejista de origem inglesa chegou ao país em 1913 e foi responsável por introduzir aqui o conceito de loja de departamento e de crediário.  

Theatro Municipal: em 1978 aconteceu uma grande manifestação em frente a este edifício, após o assassinato do trabalhador negro Robson Silveira da Luz – preso e torturado até à morte no Distrito Policial de Guaianazes, acusado de roubar frutas em uma feira – e do impedimento de quatro garotos negros de treinar no time de futebol infantil de vôlei do Clube Regatas Tietê. Sueli esteve entre as mais de duas mil pessoas que compareceram à manifestação, primeiro ato público de uma grande cidade sem violência policial do período da ditadura militar. O ato marcou uma virada de paradigma no movimento negro brasileiro, sendo também o dia da criação do Movimento Unificado Contra a Discriminação Racial, renomeado de Movimento Negro Unificado Contra a Discriminação Racial, que posteriormente se tornou o Movimento Negro Unificado - MNU.  

Biblioteca Mário de Andrade: foi no auditório desse edifício, projetado pelo arquiteto francês Jacques Pilon, em 1935, e hoje tombado pelo patrimônio histórico, que Sueli Carneiro ouviu Lélia Gonzalez pela primeira vez, em um seminário promovido por feministas. O evento marcou de forma radical a sua trajetória e pensamento.   

Faculdade de Direito São Francisco/USP: em 1988, quando Sueli coordenava o Programa da Mulher Negra na Comissão Nacional dos Direitos da Mulher, em Brasília (DF), mulheres negras do Conselho Nacional, Conselho Estadual da Condição Feminina de São Paulo e da Comissão da Mulher da OAB planejaram um júri simulado. De maio a novembro foram realizadas sessões mensais do Tribunal Winnie Mandela, culminando na sessão do Grande Júri, realizada em 20 de novembro de 1988, na Faculdade de Direito da USP.  

Primeira sede do Geledés (1990), na praça Carlos Gomes, 67, Liberdade: o Geledés - Instituto da Mulher Negra foi fundado em 1988, funcionando, nos primeiros anos, nos fundos da casa de Edna Roland, na Vila Sonia. Com financiamento do Programa de Direitos e Justiça Social da Fundação Ford, o Geledés alugou a sede, na Praça Carlos Gomes, próxima ao metrô do bairro de origem negra, a Liberdade.  Nova sede do Geledés (2001), na rua Sana Izabel, 137 – 4ª andar: em 22 de outubro de 2001, foi comprada a sede do Geledés, com salas grandes e iluminadas, a 400 metros da estação República do metrô.  

BELA VISTA

Quadra da Vai-Vai e casa de Thereza Santos: na década de 1970, Sueli frequentava os ensaios na Vai-Vai e a casa de Thereza Santos, localizada na praça 14-Bis, no bairro da Bela Vista. Foi em uma reunião na casa de Thereza, após um ensaio da escola de samba Vai-Vai, onde estiveram presentes também Rafael Pinto, Milton Barbosa, o Miltão, Odacir de Mattos e Neguinho de Obaluaê, que Thereza anunciou que recebera orientação do Partido Comunista para sair do Brasil. Dois dias depois partiria primeiro para Paris, e, em seguida, para Angola.

Prédio na rua Conselheiro Ramalho: aqui Sueli e Maurice passaram a morar quando se casaram, em 1973. Recebiam parentes, amigos e abrigaram alguns deles pelo tempo que necessitavam, seja por apertos financeiros ou por necessidade da clandestinidade no período da ditadura.  

Casa na rua Herculano de Freitas: quando a mãe de Maurice, Fortunee Jacoel, faleceu em 1975, o casal se mudou para uma casa nesta rua, travessa da Peixoto Gomide, também na Bela Vista, para acolher Albert, o viúvo. Pouco mais de um ano depois da morte da esposa, Albert também faleceu.  

BUTANTÃ

Casa da rua Giocoonda Mussolini, noº 259: em 1977, quando o bairro do Butantã ainda nem era asfaltado, Sueli e Maurice compraram o sobrado na rua Giocoonda Mussolini. A casa se tornou ponto de encontro da família, dos amigos e lugar de reunião política. Ali, cresceu Luanda, filha única do casal.   Nessa mesma casa, em 1984, Sueli e Solimar Carneiro, Rafael Pinto, Edna Roland, Flavio Jorge, Ciro Nascimento e mais algumas pessoas, criaram  o bloco afro Alafiá. Também recebeu o bloco Ilê Aiyê em sua primeira visita a São Paulo e abrigou o candomblé no qual Sueli fez o santo em 1986.  

USP – Cidade Universitária: no final de 1972, Sueli passou a cursar filosofia, conheceu intelectuais, acadêmicos e ativistas negros que passaram a fazer parte de sua vida e foram fundamentais na sua formação sobre a questão racial.   Sueli iniciou mestrado em 1981, na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP), com projeto intitulado Leitura Crítica da Filosofia Africana Contemporânea, mas desistiu. Em 1984, em nova tentativa de aproximação com a academia, cursou uma disciplina na FFLCH-USP, ministrada pelo professor José Augusto Guilhon de Albuquerque, tendo contato com o pensamento de Foucault. Após esse encontro, Sueli retomou a pós-graduação na Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo, defendendo seu doutorado em 2005.

Leia o texto na íntegra, acompanhado de fotos atuais destes lugares, em itaucultural.org.br/ocupacao.

(*) Gabriela Leandro Pereira, professora adjunta da Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e professora permanente do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo, também na UFBA, escreveu para o Itaú Cultural sobre a vida de Sueli nesses lugares e as particularidades históricas de cada um.

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De 28 de agosto a 31 de outubro de 2021
Avenida Paulista, 149 – próximo à estação de metrô Brigadeiro Piso Paulista

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