Foto: Marcus Steinmeyer

Palavras de sueli

A palavra como ferramenta de disseminação de uma luta

Sueli Carneiro escreve e fala incansavelmente para disseminar suas ideias e implementar direitos. Suas palavras são contundentes como espada afiada em campo de combate. Aqui, segue um resumo de pensamentos dela que permeiam a Ocupação em sua homenagem.
“Insisto em contar a forma pela qual foi assegurada, no registro de nascimento de minha filha Luanda, a sua identidade negra. O pai, branco, vai ao cartório; o escrivão preenche o registro e, no campo destinado à cor, escreve: ‘branca’. O pai diz ao escrivão que a cor está errada, porque a mãe da criança é negra. O escrivão, resistente, corrige o erro e planta a nova cor: ‘parda’. O pai novamente reage e diz que sua filha não é parda. O escrivão, irritado, pergunta: ‘Então, qual é a cor de sua filha?’. O pai responde: ‘Negra’. O escrivão retruca: ‘Mas ela não puxou nem um pouquinho ao senhor?’.  

É assim que se vão clareando as pessoas no Brasil e o próprio Brasil. Esse pai, brasileiro naturalizado e de fenótipo ariano, não tem, como branco que de fato é, as dúvidas metafísicas que assombram a racialidade no Brasil, um país percebido por ele e pela maioria de estrangeiros brancos como de maioria negra. Não fosse a providência e insistência paterna, minha filha pagaria eternamente o mico de, com sua vasta carapinha, ter o registro de branca, como ocorre com filhos de um famoso jogador de futebol negro.”  

Trecho do artigo Negros de pele clara, publicado no Correio Braziliense em 17 de maio de 2002
“A valorização da diferença torna-se, então, um pré-requisito para a reconciliação de todos os seres humanos. O princípio capaz de fazer com que cada um de nós com a sua diferença possa se sentir confortável e ‘em casa’ neste mundo, pertencentes que somos todos à mesma espécie humana. Essa missão civilizatória é, talvez, o ponto mais importante da agenda das próximas gerações. Então, meninas, aceitem esse bastão porque ele lhes oferece a oportunidade de, como guerreiras da luz, travarem o bom combate. Pelas causas mais justas da humanidade!”

Trecho de Por um tempo mais feminino, texto publicado em 14 de setembro de 2000 no Portal Geledés
Enegrecendo o feminismo é a expressão que vimos utilizando para designar a trajetória das mulheres negras no interior do movimento feminista brasileiro. Buscamos assinalar, com ela, a identidade branca e ocidental da formulação clássica feminista, de um lado; e, de outro, revelar a insuficiência teórica e prática política para integrar as diferentes expressões do feminino construídos em sociedades multirraciais e pluriculturais. Com essas iniciativas, pôde-se engendrar uma agenda específica que combateu, simultaneamente, as desigualdades de gênero e intragênero; afirmamos e visibilizamos uma perspectiva feminista negra que emerge da condição específica do ser mulher, negra e, em geral, pobre, delineamos, por fim, o papel que essa perspectiva tem na luta anti-racista no Brasil.”

Trecho de Mulheres em movimento, artigo publicado na revista Estudos avançados, volume 17, nº 49, edição de setembro/dezembro de 2003
“A subserviência e o infantilismo dos personagens negros reiteram a visão preconceituosa de uma humanidade incompleta do negro, que se contrapõe à completitude humana do branco, mesmo que sejam brancos de classes subalternas, como é o caso dos imigrantes de Terra Nostra.  

Essa estereotipia justifica a exclusão e a marginalização histórica do negro. Ela legitima um projeto de nação que vem sendo construído nestes 500 anos: de hegemonia branca e exclusão ou admissão minoritária e subordinada de negros, indígenas e não brancos em geral. E é esse projeto de nação que o imaginário televisivo busca consolidar para o próximo milênio.    

Um projeto que faz, intencionalmente, uma leitura do passado que omite a violência da escravidão e as diversas formas de resistência a ela desenvolvidas pelos negros, a abolição inconclusa e o papel da imigração na estratégia das elites de branqueamento da nação. E quando reconhece alguma dessas questões o faz por intermédio de personagens brancos, consubstanciando uma imagem estigmatizadora do negro como um ser que tem de ser tutelado pelo branco. Um projeto que invisibiliza as lutas do presente por igualdade de direitos e oportunidades e pela afirmação da identidade étnico-cultural, as reivindicações de políticas públicas inclusivas, os exemplos heroicos de sobrevivência em uma sociedade hostil e excludente em relação aos negros.”  

Trecho de Terra Nostra só para os italianos, texto publicado na Folha de S.Paulo, na coluna Tendências e debates, em 27 de dezembro de 1999
“A construção de estratégias coletivas de luta é produto de organização política, de liderança reconhecida e legitimada. Nossa responsabilidade histórica é responder aos desafios que estão colocados, através de uma expressão política que represente os anseios do povo negro desse país. Este é um desafio político fundamental para a militância negra no presente.”  

Trecho de Movimento negro no Brasil: novos e velhos desafios, artigo publicado no Caderno CRH nº 36, edição de janeiro/junho de 2002
“Além disso, é preciso explicitar-te a identidade de quem te fala, sem tergiversações. Não são definições minhas, mas as adoto por estar com elas de acordo e pela certeza de facilitar tua compreensão. Como já te adiantei, sou negra, uma juntada de pretos e pardos. Ora, não me peças explicações sobre coisas que tu inventaste como esse ‘pardo’. Só sei que a cada dia que passa, ele fica mais negro.”  

Trecho da tese de doutorado em educação “A construção do outro como não-ser como fundamento do ser”, defendida em 9 de agosto
de 2005 por Sueli Carneiro na Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (Feusp)
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