Aqui estão relacionados dez realizadores brasileiros de cinema de bordas. Um ou dois de seus filmes mais singulares também são ressaltados. Os diretores, e respectivas obras, foram selecionados por um grupo de pesquisadores independentes que se dedica ao estudo desse tipo de produção. Em comum, os cineastas escolhidos para compor esta lista participaram das três edições de Cinema de Bordas feitas no Itaú Cultural nos anos de 2009, 2010 e 2011. O diretor Pedro Daldegan foi escolhido para receber uma homenagem especial, por seu pioneirismo e sua influência sobre o cinema periférico em todo país.
     A partir das três edições da Mostra Itaú Cultural de Cinema de Bordas, alguns atores, atrizes e realizadores se juntaram para participar, colaborar e atuar uns nos filmes dos outros. Um movimento subterrâneo começou, assim, a percorrer o rico e quase desconhecido universo periférico que se situa às bordas da historiografia do cinema no Brasil.
     Foi dessa forma que o Itaú Cultural continuou a somar diversidade e extensão ao espaço do cinema e do audiovisual brasileiros. O instituto fez isso não apenas cedendo seu espaço físico a filmes que permaneceriam invisíveis, mas também incentivando a pesquisa de um grupo de estudo que se preocupa com modelos alternativos de cinema e tenta configurar coordenadas mais equilibradas na história das formas cinematográficas do nosso país.

Bernadette Lyra, Gelson Santana e Laura Cánepa


Minha Esposa É um Zumbi (2006) e Gato (2009)
[realizador homenageado]

Minha Esposa É um Zumbi (2006) torna evidentes as influências do diretor Joel Caetano, vindas dos filmes de horror e de ficção científica das décadas de 1970 e 1980. Determinado a revigorar seu desempenho sexual, o personagem Tonho rouba de um laboratório um medicamento inventado por cientista. Inadvertidamente, sua esposa ingere o tal remédio, que produz um terrível efeito colateral. Agora, Tonho tem de adaptar sua vida cotidiana à realidade da parceira. Misturando a presença de atores (entre eles, o próprio diretor, sua esposa Mariana, o sócio Danilo, os pais da esposa e outros amigos) e animação, o curta-metragem é uma combinação de horror e comédia, com nítidas influências da cultura pop massiva e midiática. Além de dirigir e atuar, Joel foi o responsável pelos desenhos e animação do filme, da qual foi produtor, roteirista, dublador e editor.

Gato (2009). Apesar de contar com um baixíssimo orçamento e o envolvimento da família do diretor, o filme o aproxima de um cinema realizado profissionalmente. Trata-se de um conto de terror sobre um homem, um gato e muito sangue. A partir de um roteiro original, Joel passeia pelos territórios do fantástico e do estranho (ou sinistro) freudiano, flertando com o horror e o humor negro, com uma narrativa audiovisual primorosa. Além de dirigir e atuar, Joel trabalhou na produção, roteiro, storyboard, edição, maquiagem, figurino e efeitos especiais.



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Joel Caetano

por Rogério Ferraz

Nasceu em 1977, no bairro da Freguesia do Ó, em São Paulo. Passou a infância na Vila Nova Cachoeirinha, na zona norte paulistana. Atualmente, reside no bairro do Brás.

Em 2001, estudante universitário, Joel criou, com Mariana Zani, atualmente sua esposa, e Danilo Baia, a Recurso Zero Produções para discutir ideias sobre realização de obras de baixo orçamento, além de comentar a atual cultura midiática, no que ela tem de arte, pop, trash e entretenimento, Joel Caetano (que assina JC) e Mariana Zani (a Miss M.Z.Cae) mantêm o blog Feijoada Cibernética.

Como diretor, realizou os filmes Afrodite (2002); Dupla Surpresa (2002); Onde Há Fumaça (2003); Trabalhador (2003); Trailer Heróiz com Z de Brazil (2004); Despedida (2004-2005); Bruma (animação, 2005); Minha Esposa É um Zumbi (2006); Junho Sangrento (2007); O Assassinato da Mulher Mental (2008); Gato (2009); Wonderlandigital (2010); e Estranha (2010/2011).

Muitos desses curtas (alguns deles, premiados) apresentam histórias fantásticas. O horror se faz presente como matriz de uma obra que se pauta pela apropriação e remix de cenas, imagens, formas e situações narrativas de variados gêneros cinematográficos. Joel Caetano faz um cinema pulsante, realizando trabalhos de forte apelo popular, mas que são também obras de culto, que privilegiam as experiências e sensações e trabalham com as chaves dos gêneros cinematográficos, ora na forma do escracho ora recorrendo ao grotesco e ao estranho.