Aqui estão relacionados dez realizadores brasileiros de cinema de bordas. Um ou dois de seus filmes mais singulares também são ressaltados. Os diretores, e respectivas obras, foram selecionados por um grupo de pesquisadores independentes que se dedica ao estudo desse tipo de produção. Em comum, os cineastas escolhidos para compor esta lista participaram das três edições de Cinema de Bordas feitas no Itaú Cultural nos anos de 2009, 2010 e 2011. O diretor Pedro Daldegan foi escolhido para receber uma homenagem especial, por seu pioneirismo e sua influência sobre o cinema periférico em todo país.
     A partir das três edições da Mostra Itaú Cultural de Cinema de Bordas, alguns atores, atrizes e realizadores se juntaram para participar, colaborar e atuar uns nos filmes dos outros. Um movimento subterrâneo começou, assim, a percorrer o rico e quase desconhecido universo periférico que se situa às bordas da historiografia do cinema no Brasil.
     Foi dessa forma que o Itaú Cultural continuou a somar diversidade e extensão ao espaço do cinema e do audiovisual brasileiros. O instituto fez isso não apenas cedendo seu espaço físico a filmes que permaneceriam invisíveis, mas também incentivando a pesquisa de um grupo de estudo que se preocupa com modelos alternativos de cinema e tenta configurar coordenadas mais equilibradas na história das formas cinematográficas do nosso país.

Bernadette Lyra, Gelson Santana e Laura Cánepa


Ninguém Deve Morrer (2009)
[realizador homenageado]

Ninguém Deve Morrer (2009) apresenta narrativa básica de western (ou faroeste caipira): uma trama rural – universo que o diretor, Peter Baiestorf, frequentemente ridiculariza – que inclui vingança, amores perdidos e que explode em violência estilizada. A situação serve de pano de fundo para um inusitado musical em que o realizador se apropria da gramática do cinema e a recicla de acordo com os cânones de seu universo. Faz isso utilizando elementos seminais da cultura popular, como a música brega e diálogos retirados de filmes que homenageia.

O Doce Avanço da Faca (2010), “curta metragem gore feminista”, como descreve o diretor, conta a trágica história de um desenhista de histórias em quadrinhos pornôs (Coffin Souza) e sua musa Ana Clara (Gisele Ferran), aspirante a poetisa com invejável apetite sexual. O casal, ao fixar moradia em atrasada localidade campestre, desperta a fúriade um grupo de fanáticos religiosos.


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Petter Baiestorf

por Lúcio Piedade

Natural de Palmitos (SC), Petter Baiestorf fundou, em 1991, a Canibal Produções. Com uma câmera emprestada, rodou Criaturas Hediondas (1993), o primeiro de uma série de filmes seus marcados pelo trash e pelo grotesco. Realizou O Monstro Legume do Espaço (1995) e, em parceria com César Souza (Canibal-Mabuse Produções), Eles Comem Sua Carne (1995), Blerghhh! (1997) e os polêmicos Gore-Gore Gays e Sacanagens Bestiais dos Arcanjos Fálicos (1998). Em 1999, lançou Zombio, uma homenagem aos zumbis italianos. Em 2001, dirigiu o violento Raiva: Rage-o-rama (2001). Ninguém Deve Morrer (2009) é resultado da fase iniciada com o filme experimental Palhaço Triste (2005). Em parceria com o cineasta Gurcius Gewdner realizou O Monstro Legume do Espaço 2 (2006), A Curtição do Avacalho (2006), Arrombada: Vou Mijar na Porra do seu Túmulo (2007) e Vadias do Sexo Sangrento (2008). No recente O Doce Avanço da Faca (2010), curta-metragem gore feminista (de acordo com o próprio realizador), a apropriação do universo do cinema (s)exploitation dos anos 1970 e 1980 é a tônica dominante. Nele, Baiestorf destila seu veneno com bastante ironia contra desafetos habituais: a intolerância e o maniqueísmo religioso e o atraso cultural interiorano.