Aqui estão relacionados dez realizadores brasileiros de cinema de bordas. Um ou dois de seus filmes mais singulares também são ressaltados. Os diretores, e respectivas obras, foram selecionados por um grupo de pesquisadores independentes que se dedica ao estudo desse tipo de produção. Em comum, os cineastas escolhidos para compor esta lista participaram das três edições de Cinema de Bordas feitas no Itaú Cultural nos anos de 2009, 2010 e 2011. O diretor Pedro Daldegan foi escolhido para receber uma homenagem especial, por seu pioneirismo e sua influência sobre o cinema periférico em todo país.
     A partir das três edições da Mostra Itaú Cultural de Cinema de Bordas, alguns atores, atrizes e realizadores se juntaram para participar, colaborar e atuar uns nos filmes dos outros. Um movimento subterrâneo começou, assim, a percorrer o rico e quase desconhecido universo periférico que se situa às bordas da historiografia do cinema no Brasil.
     Foi dessa forma que o Itaú Cultural continuou a somar diversidade e extensão ao espaço do cinema e do audiovisual brasileiros. O instituto fez isso não apenas cedendo seu espaço físico a filmes que permaneceriam invisíveis, mas também incentivando a pesquisa de um grupo de estudo que se preocupa com modelos alternativos de cinema e tenta configurar coordenadas mais equilibradas na história das formas cinematográficas do nosso país.

Bernadette Lyra, Gelson Santana e Laura Cánepa


Vlad (1989) e Museu de Cera (1988)
[realizador homenageado]

Vlad (1989). Um garoto tem uma visão de si próprio amarrado a uma árvore na floresta, num estado que beira a morte. Masencontra Vlad, que transformará sua premonição em realidade.

Museu de Cera
(1988). Acordado por um estranho pesadelo, um adolescente decide invadir a casa que ele e o amigo encontraram durante o dia. A residência se revela ser um perigoso museu de cera.



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Pedro Daldegan


Pedro Luis Bello Daldegan nasceu 1971, em Santa Rita do Passa Quatro, interior de São Paulo, onde fez cerca de 30 curtas-metragens. Iniciou sua produção com uma câmera super-8, realizando dois curtas de 3 minutos cada um.Em 1988, fundou, com um grupo de amigos, a Kobold Pictures. A principal influência de Pedro Daldegan nessa fase foi o cinema expressionista alemão, a literatura fantástica de Edgar Allan Poe e Stephen King, além do cinema norte-americano de então.

Sua obra inclui experiências fílmicas improvisadas, como Dançando no Ar (1983) e Aeroporto 84 (1984), realizadas em super-8 e influenciadas por produções do cinema mudo hollywoodiano e do diretor Steven Spielberg. Com uma câmera VHS, filmou A Perseguição, Androide, The Spy, A Caça ao Tesouro e Academia de Treinamento de Combatentes de Guerra (1986).

Em 1987, fez seu primeiro filme falado, O Filho de Sirius, inspirado em Contatos Imediatos do Terceiro Grau (Close Encounters of the Third Kind, de 1977, dirigido por Steven Spilberg). Em 1988, dirigiu Delusion, considerado o marco inicial da Kobold Pictures. Em seguida, veio Alta Tensão, filme curto, feito muito rapidamente, no improviso, no ímpeto de filmar. O Espião que Saiu do Frio, realizadona sequência, utilizou o recurso da dublagem (feita após a edição de imagens) de forma cômica, para compensar a precariedade técnica. Já Mensagem na Garrafa teve dublagem mais profissional, embora nunca tenha tido edição de som finalizada.

Com Alta Tensão II – O Dia Seguinte e Haunt, Pedro Daldegan retornou aos filmes mudos, tendência mantida na maioria das suas produções seguintes. A escolha se deu não apenas pela dificuldade técnica e artística que representava a captação de som, mas também pelo desejo deseguir a premissa de narrar histórias apenas com imagens. Apesar da paixão pelo cinema, Pedro formou-se em engenharia elétrica na USP. Sua carreira seguiu esse rumo. Depois de rodar A Prisão (última produção da Kobold Pictures, realizada em 1992), continuou estudando, escrevendo contos, remasterizando seus filmes e fazendo experimentos com fotografias e filmes digitais.