Aqui estão relacionados dez realizadores brasileiros de cinema de bordas. Um ou dois de seus filmes mais singulares também são ressaltados. Os diretores, e respectivas obras, foram selecionados por um grupo de pesquisadores independentes que se dedica ao estudo desse tipo de produção. Em comum, os cineastas escolhidos para compor esta lista participaram das três edições de Cinema de Bordas feitas no Itaú Cultural nos anos de 2009, 2010 e 2011. O diretor Pedro Daldegan foi escolhido para receber uma homenagem especial, por seu pioneirismo e sua influência sobre o cinema periférico em todo país.
     A partir das três edições da Mostra Itaú Cultural de Cinema de Bordas, alguns atores, atrizes e realizadores se juntaram para participar, colaborar e atuar uns nos filmes dos outros. Um movimento subterrâneo começou, assim, a percorrer o rico e quase desconhecido universo periférico que se situa às bordas da historiografia do cinema no Brasil.
     Foi dessa forma que o Itaú Cultural continuou a somar diversidade e extensão ao espaço do cinema e do audiovisual brasileiros. O instituto fez isso não apenas cedendo seu espaço físico a filmes que permaneceriam invisíveis, mas também incentivando a pesquisa de um grupo de estudo que se preocupa com modelos alternativos de cinema e tenta configurar coordenadas mais equilibradas na história das formas cinematográficas do nosso país.

Bernadette Lyra, Gelson Santana e Laura Cánepa


O Vagabundo Faixa Preta (1992) e O Show Variado (2010)
[realizador homenageado]

O Vagabundo Faixa Preta (1992) conta a história de um habilidoso lutador de caratê que ganha a vida fazendo demonstrações de artes marciais na rua. Na cidade de Colorado, ele é hostilizado por caratecas de academias locais, que decidem eliminá-lo. A partir daí, desenrola-se uma série de confrontos. Nessas lutas, ele também salva pessoas indefesas do perigo: uma moça agredida por uma gangue e uma família atacada por ninjas. A perseguição termina quando o bando de uma academia prende o lutador de rua. Em seguida, entra em cena a moça que ele ajudou anteriormente e que agora o salva. O lutador jura recuperar sua faixa e inicia um rigoroso treinamento. No conflito final, os inimigos sucumbem à força do herói.

O Show Variado (2010). Em forma de comédia musical, o filme traz no enredo artes marciais e uma série de esquetes. Os personagens são, entre outros, um doutor, um delegado maluco, um marido traído e um levantador de pesos. Os esquetes são intercalados por shows musicais, compostos de canções populares brasileiras. Assim como os outros trabalhos do diretor, este último é um exemplo de gênero impuro no cinema brasileiro. Ou seja, a obra estabelece profícuo diálogo com narrativas audiovisuais presentes em filmes de gêneros (especialmente aqueles difundidos pela produção norte-americana) e aquelas representativas da teledramaturgia televisiva (em particular as telenovelas brasileiras).


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Simião Martiniano

por Rosana de Lima Soares

Alagoano da cidade de União dos Palmares, Simião Martiniano mora em Jaboatão dos Guararapes, município da região metropolitana do Recife. À frente do Grupo Cine Teatro Clênio Wanderley, Martiniano roteiriza, produz, dirige e, não raro, atua – não só em suas produções, mas também nas de outros diretores. Seus filmes de ação, romance e melodrama dialogam e subvertem gêneros cinematográficos. A obra de Simião é composta por oito longas-metragens: O Herói Trancado (1999); A Rede Maldita (1991); O Vagabundo Faixa Preta (1992); A Mulher e o Mandacaru (1994); Traição no Sertão (1996, originalmente filmado em super-8, em 1979); A Moça e o Rapaz Valente (1999); A Valize Foi Trocada (2007, nome original com “z”); O Show Variado (2010). Trabalha vendendo DVDs e vinis antigos, além de cópias de seus próprios filmes, em uma banca de rua no centro do Recife, o que o tornou conhecido como “Simião, o camelô de cinema”.